Diferença entre BCE e Fed pode atrasar retoma europeia - TVI

Diferença entre BCE e Fed pode atrasar retoma europeia

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Poder da Fed é considerado maior

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O Banco Central Europeu (BCE), por ter poderes mais limitados que a Reserva Federal norte-americana (Fed), pode atrasar a retoma económica europeia face ao outro lado do Atlântico, segundo a opinião de economistas ouvidos pela Lusa.

O economista do BCP, José Maria Brandão de Brito, considera que o poder da Fed é «muito maior» que o do BCE: o seu âmbito de acção é mais alargado, a Fed também participa no processo legislativo (no BCE o Tratado de Maastricht restringe isso) e o Tesouro pode autorizá-la a fazer muitas acções (no BCE não existe numa entidade que possa conceder poderes extras ao BCE).

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Assim, admitindo que a política da Fed é eficaz, o BCE encontra-se «mais condicionado», concluiu Brandão de Brito.

Para António Rebelo de Sousa, economista e professor universitário, «os poderes da Fed e do BCE são muito diferentes porque os seus princípios também o são».

O economista e ex-governador do Banco de Portugal, José Silva Lopes, recorda que o mandato do BCE de combater a inflação é «mais imperioso» do que o da Fed, já que o deste último abre mais a possibilidade da instituição «olhar para os problemas do emprego», enquanto o do primeiro se centra na estabilidade de preços.

Europa: relançamento da economia mais lento

O BCE tem mostrado que também está preocupado com o desemprego, nota Silva Lopes, pois tem descido as taxas de juro e injectada muita liquidez na economia. No entanto, pela definição dos próprios mandatos, «o BCE está mais limitado do que a Fed».

Além disso, o BCE está impedido de financiar os governos, o que significa que não pode comprar dívida pública, acrescentou Rebelo de Sousa.

A consequência destas diferenças na actuação dos dois bancos centrais é que o relançamento da economia europeia será «muito mais difícil» e «mais lento» do que nos EUA, prognosticou o mesmo professor universitário.

Na actual conjuntura, o BCE tem argumentado que o âmbito da sua acção é «eficiente» porque as empresas se financiam sobretudo com empréstimos bancários, notou Brandão de Brito, enquanto nos EUA as empresas recorrem mais ao mercado de capitais.

Assim, os EUA têm que comprar títulos de dívida para fazer chegar crédito às empresas, enquanto na Europa o BCE diz que consegue resolver o problema do crédito através apenas da cedência de liquidez.

Uma coisa é certa, para o mesmo analista, «se o BCE quiser trazer toda a curva de rendimentos para baixo, é muito mais complicado» do que para a Fed.

O ex-governador do Banco de Portugal Miguel Beleza nota que uma das diferenças nos poderes entre o BCE e a Fed se prende com a supervisão: a Fed é responsável pela supervisão financeira e especialmente da banca, enquanto o BCE não - na Europa esse papel cabe aos bancos centrais de cada país.

Nas suas esferas de actuação, ambos os bancos são «credíveis o suficiente perante o mercado», segundo Miguel Beleza, do ponto de vista da eficácia das suas políticas.
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