"Lembra Portas nos anos 80" mas está numa "bolha": Montenegro corre "grande risco" com Bugalho na esperança que compense - TVI

"Lembra Portas nos anos 80" mas está numa "bolha": Montenegro corre "grande risco" com Bugalho na esperança que compense

Sebastião Bugalho

Para surpresa de muitos, Sebastião Bugalho foi o escolhido de Montenegro para encabeçar a lista da AD para as eleições europeias. Há prós, contras e riscos de se escolher um jovem comentador sem um robusto historial político

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Está decidido, a juventude e o potencial de crescimento levaram a melhor no PSD e Sebastião Bugalho é a escolha para encabeçar a lista da AD para as eleições europeias. Filho de jornalistas, estudou Ciência Política, estreou-se no jornalismo no I e no Sol, foi comentador na TVI24, na CNN Portugal, posteriormente, na SIC e agora tem lugar garantido no Parlamento Europeu. A CNN Portugal falou com um dirigente do CDS, um deputado e ex-deputado do PSD (todos quiseram manter o anonimato) e um politólogo. A resposta não foi consensual: de um lado acredita-se que Luís Montenegro fez "uma excelente escolha" e do outro que está a "correr um grande risco".

Deputado do PSD: "É uma excelente escolha"

O atual deputado social-democrata considera que Sebastião Bugalho "é uma cara fresca" e alguém que tem traços comuns com outro rosto conhecido dos painéis de comentadores televisivos: "Faz lembrar o Portas nos anos 80, alguém que estuda as matérias, que se prepara bem para os debates e apela à mobilização numas eleições que normalmente poucos eleitores aderem”.

O político com assento parlamentar concorda que esta "não é uma escolha tradicional", mas refere que o PSD não quis seguir a "lógica do PS" que, no seu entendimento, olha para as listas às europeias como "um prémio de consolação" de históricos do partido. Quem também errou, no entendimento do deputado, foram os centristas: "A escolha do CDS, a Ana Miguel Pedro Soares, é má, ainda por cima com tantas pessoas mais combativas como Raquel Varela e Luísa Aldim”.

"Sebastião Bugalho é uma cara fresca que se destaca por ter uma enorme cultura geral e dominar, especialmente, os temas internacionais, que, numa altura de guerra na Ucrânia e no Médio Oriente, vão ser pontos fulgurantes e cruciais nestas europeias”, justifica o político social-democrata.

O social-democrata desvaloriza ainda um eventual crescimento do Chega nas eleições europeias, lembrando que “o Chega, a única coisa que tem, é o André Ventura, mas chegará a altura em que também o André Ventura vai cansar às pessoas, porque até um artista comediante tem de fazer uma pausa de vez em quando”. Quanto ao facto de o cabeça de lista do PSD concorrer às urnas como independente, o deputado responde: “O Sebastião Bugalho é independente, mas só lhe falta o cartão do partido. A trajetória que tem sido feita é a mesma da AD”.

Dirigente do CDS: "Excelente escolha e ainda bem que não se está a falar na candidata do CDS que ninguém sabe quem é"

O dirigente do CDS não escondeu a surpresa e o desagrado com a escolha de Nuno Melo para concorrer às eleições europeias: “Ainda bem que se está a falar do Sebastião Bugalho e não da Ana Miguel Pedro Soares (candidata do CDS)”, explicando que "ninguém sabe quem é essa senhora. "Pergunte a 100 dirigentes, nenhum saberá”, ironiza.

O centrista vê Sebastião Bugalho como "um cidadão comum" com um "discurso que é mais facilmente entendido e, às vezes, tem mais impacto do que os líderes partidários”. Para além disso, tem um guião de raciocínio que "quem está à direita percebe", "é jovem", consegue "marcar o debate e a agenda", "é direto", "claro" e tem "ideias concisas".

“Cheguei a tentar convencê-lo a ser um dos candidatos à liderança do CDS e a competir contra Francisco Rodrigues dos Santos, porque já, na altura, acreditava que podia vir a ser uma grande figura no CDS. Ele [Sebastião Bugalho] pensou nisso, mas acabou por optar por não avançar”, explica.

O entrevistado lembra que a opção de Luís Montenegro "é uma escolha que marca a agenda política e assim combate também a presença constante de André Ventura no espaço político-comunicacional”. No entendimento do dirigente centrista, Sebastião Bugalho tem a capacidade de "retirar visibilidade" ao Chega: "É uma excelente escolha também por isso, porque lhe tira aquele palco de populista”.

Às críticas, responde que entende que “pode causar algum prurido por ser uma pessoa que vem de fora e que salta desta forma para uma candidatura da AD, até porque é uma posição muito apetecível”, mas, lembra o centrista, “o comentário dele [Sebastião Bugalho] acabou por mudar de forma decisiva a forma como a política chega a casa das pessoas, despertando um cada vez maior interesse nas que poderiam estar mais desligadas”.

Ex-deputado do PSD: "Uma aposta arriscada, faz parte de uma bolha político-mediática"

Para o ex-deputado do PSD, que abandonou o Parlamento no final da última legislatura, é evidente que Sebastião Bugalho "é uma escolha arriscada" que pode ter um de dois resultados finais: "Se o PSD ganhar é genial, se não vai cair o mundo todo sobre Montenegro”.

“Tenho dúvidas sobre a aposta, porque acaba por invariavelmente queimar-se um comentador com um percurso marcado por independência”. “Se voltar ao comentário, terá sempre a tatuagem laranja colada a si próprio”, diz.

Apesar de considerar que não foi a escolha acertada para cabeça de lista, o político social-democrata acredita que teria sido um nome a ponderar para número dois das escolhas do PSD, lembrando ainda que Sebastião Bugalho poderá ter dificuldades em "ter de se colar ao discurso de Luís Montenegro".

Questionado sobre as previsões para o resultado das eleições europeias, o ex-deputado diz que é preciso "ter atenção que Sebastião Bugalho faz parte de uma bolha político-mediática", enaltecendo que "apesar de ser uma escolha fresca" há dúvidas entre alguns membros partidários sobre "se conseguirá convencer uma grande parcela do eleitorado".

José Filipe Pinto: "Sebastião Bugalho poderá ter muitas potencialidades, mas Luís Montenegro corre um grande risco"

O politólogo e professor catedrático da Universidade Lusófona José Filipe Pinto é claro e sucinto: "Foi exagerado", lembrando que "nenhuma escolha é isenta de riscos, mas esta escolha, para além de não ser isenta, comporta risco". "Sebastião Bugalho é o capitão da Equipa B", exemplifica, acrescentando que, neste caso, "tal como no futebol, 'B' requer evolução e não é garantia de 'bom'".

"É evidente que a mudança é sempre importante. Rostos novos trazem sempre uma forma nova de fazer política, mas uma coisa é fazer parte de um projeto e outra é liderar um projeto. Há uma diferença entre ser-se membro da tripulação ou ser-se o comandante da tripulação", lembra José Filipe Pinto.

No entanto, o politólogo lembra que o agora cabeça de lista da AD "apenas foi candidato pelo CDS" e vai enfrentar "um outro problema": "O grupo de eurodeputados do PSD mostrou elevadíssima competência, mas também um excelente desempenho e deixou o PSD numa situação muito complicada, porque tinha de arranjar substitutos à altura".

José Filipe Pinto considera que a escolha de Sebastião Bugalho se prende, sobretudo, com a "possibilidade de a AD conseguir diminuir e limitar o protagonismo de que André Ventura e do Chega têm capitalizado" por ser "um conservador e os seus comentários refletirem isso mesmo." Sendo que, no seu entendimento, o jovem comentador tem a seu favor "o mediatismo, o facto de ser jovem, de ser disruptivo, a capacidade de análise e por surgir como um rosto de mudança".

Todavia, como explica o politólogo, Montenegro ao "apostar em Sebastião Bugalho fechou imediatamente a porta a outros nomes que, não tendo o seu mediatismo, têm um historial de desempenho e competência muito maior, como acontecia, por exemplo, com Rui Moreira". O professor entende que é por isso que "não há nomes de primeira fila do PSD na lista", o que se poderia ter-se traduzido "numa lista mais segura e confiável que manteria a confiança do eleitorado".

"A condição de ser jovem não é necessária nem suficiente para liderar um projeto tão complexo como este. Queimaram-se etapas. Sebastião Bugalho poderá ter muitas potencialidades, mas uma coisa são competências e outra são potencialidades. Luís Montenegro corre aqui um grande risco", culmina o politólogo e professor catedrático.

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