«Vivo no jardim há sete anos» - TVI

«Vivo no jardim há sete anos»

Pedro vive no jardim da Praça da Alegria há sete anos

REPORTAGEM: 26 sem-abrigo «convidados» a sair da Praça da Alegria pelas autoridades. Espaço vai ter «vida nova» com concertos ao ar livre. Mendigos já não ficam bem na fotografia

Quem quiser viver na rua pode. Não existe nenhuma lei que impeça quem quer que seja de dormir ao relento na via pública. E é por isso que a operação, que teve início esta semana na Praça da Alegria em Lisboa, é tão sensível. As autoridades «convidaram» 26 sem-abrigo a abandonar o espaço verde no centro da praça.

«Vivo no jardim há sete anos», conta Pedro Nóbrega, também conhecido por Suíno, ao PortugalDiário. «É o nosso parque de campismo». Enquanto o PortugalDiário conversa com o Pedro, outro «hóspede» da praça lava na fonte os talheres que usou ao almoço.

O jardim Alfredo Keil tornou-se um albergue ao ar livre por uma razão prática. As organizações que distribuem comida aos sem-abrigo escolheram a Praça da Alegria como local de paragem e mais de 20 homens passaram a morar no jardim ao lado do food-court dos pobres. Ainda por cima, a zona é segura, com uma esquadra da PSP a poucos passos.

Adeus mendigos, olá jazz

Mas agora a praça vai mudar de mãos. Em Agosto, o jardim vai estar todo arranjado, garante o presidente da junta de São José, João Mesquita, ao PortugalDiário. Em tão pouco tempo? A ideia é «dar vida» ao jardim e não fazer grandes obras. Vai abrir um quiosque e uma esplanada e vão ser organizados eventos culturais, adianta João Mesquita. O clube de jazz Hot Club Portugal e a sala de espectáculos Maxime, ambos situados na Praça da Alegria, passarão a organizar concertos de música ao ar livre, revela. «O desenho do jardim vai ser mantido. As árvores, algumas delas com mais de 300 anos, estarão devidamente identificadas».

«Precisam de recuperar os sem-abrigo antes de recuperar o jardim»

Aos 26 «hóspedes» da Praça da Alegria foram apresentadas, esta semana, duas alternativas: ou vão para um albergue em Xabregas ou deixam o jardim. Metade foi para o albergue, mas nada os impede de regressarem à Alegria. O Pedro não quis ir e dormiu no jardim. «Xabregas? É longe. Quem me paga o transporte até aqui? A minha vida é aqui».

Um amigo do Pedro faz um apelo: «Precisam de recuperar os sem-abrigo antes de recuperar o jardim». Mas ao mencionar o albergue de Xabregas, o «hóspede» torce o nariz e diz que prefere ficar no jardim. «Um dos grandes problemas é que muitos sem-abrigo estão na rua porque querem. É uma opção de vida», lembra o presidente da junta.

Coabitar com os sem-abrigo

É possível conciliar a revitalização do espaço público com a presença dos sem-abrigo? Os próprios não têm dúvidas. «Claro que sim! Nós não fazemos mal a ninguém». Mas um casal de turistas, que chega ao parque durante a reportagem do PortugalDiário, poderá não ter a mesma opinião. Sentam-se num dos bancos do jardim para descansar e são imediatamente abordados por alguns dos «hóspedes» que começam por querer cigarros e acabam por pedir dinheiro. Os turistas dizem que não têm nada e levantam-se apressadamente.
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