Ex-cabo: mulher e filho ouvidos - TVI

Ex-cabo: mulher e filho ouvidos

António Costa à entrada para o Tribunal da Figueira da Foz (Paulo Novais/Lusa)

Fernanda acredita na inocência do marido porque viveu com ele «31 anos». André também crê na última versão do pai. Familiares dizem que «não se recordam» das conversas em que o arguido confessou crimes. Entraram e saíram sem o olharem na cara

Quando a Polícia Judiciária lhe disse que o marido confessara os crimes: «Fiquei de boca aberta a olhar para ele e disse: só pode estar doente». Maria Fernanda, mulher do ex-cabo da GNR de Santa Comba Dão, foi ouvida esta tarde em tribunal e quando lhe perguntaram se acreditava na inocência do marido respondeu de imediato. «Acredito. Pelo que vi dos 31 anos em que vivi com ele. Era trabalhador, nunca me tocou». «Não é esse o marido com quem vivi 31 anos», repetiu a testemunha várias vezes.

Questionada sobre as conversas telefónicas, interceptadas pela PJ, em que o marido lhe confessava os crimes, Maria Fernanda respondeu sempre da mesma maneira. «Não me recordo», «não me lembro».

Não se recorda de o marido lhe ter confessado os três crimes; não se lembra de nas referidas conversas se ter manifestado apreensiva quanto ao destino dos seus bens (dinheiro e duas casas) e não tem presente se comentou com o filho as confissões que o marido lhes fez, em telefonemas distintos.

«Disse que o Rogério ameaçou matá-lo a ele, a mim e aos filhos»

Pelo contrário, recorda-se bem de o marido lhe ter dito, já quando se encontrava em prisão preventiva, que o autor dos crimes era, afinal, Rogério, o tio de Mariana. «Disse que o Rogério ameaçou matá-lo a ele, a mim e aos filhos».

A memória volta a falhar quando é questionada sobre a conversa telefónica em que o marido confessa ter mantido relações sexuais com a primeira vítima, Isabel Cristina, mas recorda-se de Rogério ter ido, por duas vezes, a sua casa buscar sacos para ração (iguais aos usados para ensacar as vítimas). Precisou que as duas visitas ocorreram entre Abril e Maio de 2005, numa altura em que estava em casa «de baixa médica». A primeira vítima desapareceu a 24 de Maio de 2005.

Antes de terminar o depoimento, a mulher do arguido foi ainda confrontada com a contradição entre o seu depoimento e o prestado por uma cunhada, numa das últimas sessões. «A sua cunhada diz que os sacos de ração (iguais aos usados para ensacar as vítimas) iam de sua casa para casa dela e a senhora diz o contrário». Maria Fernanda encolheu os ombros. «Eu acho que era ao contrário». Quando foi dispensada, saiu da sala como entrou: sem olhar para o marido.

«Acredito na versão do meu pai»

«Acredito na versão de que o meu pai não fez aquilo às raparigas». André Costa, filho do arguido, admitiu esta tarde em tribunal que o pai começou por confessar os crimes e que, mais tarde, apontou o dedo ao tio de Mariana, Rogério, acusando-o, ainda, de ter «ameaçado» fazer mal «ao meu pai, à minha mãe e a mim».

As queixas do pai eram extensíveis à PJ. Segundo os relatos do arguido, os inspectores coagiram-no a confessar os crimes, tendo-lhe inclusivamente, um deles, apontado uma arma à cabeça. Apesar de o progenitor lhe ter identificado o inspector em causa, André não recorda o nome do visado.

Questionado por que razão nunca avançou com uma queixa por coacção e ameaça contra Rogério, o filho do arguido não soube responder.

Após a primeira confissão que deixou o filho «chocado», [«Achei que não era o pai que eu conhecia»], quando denunciou o Rogério, o ex-cabo «libertou-se e foi o pai que eu conheci toda a vida».

Visivelmente nervoso, André Costa usou e abusou das expressões «não me recordo», «não me lembro», sempre que era questionado sobre as conversas telefónicas em que o pai lhe confessou os crimes.

Mais adiante, admitiu que o progenitor lhe confessou os crimes mas que ele «ficou na dúvida». André nunca viu o pai nervoso por altura dos desaparecimentos e garante que não tem «nada a apontar-lhe».

«Se estou na GNR é por causa do meu pai, que me incentivou», acrescentando que a detenção foi «um grande choque». Quando o juiz o dispensou, levantou-se nervoso e saiu como entrou: sem olhar o pai.

Leia a seguir: «Se houver provas, também não perdoo»
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