«Os meus filhos precisavam de ter uma mãe» - Continuação - TVI

«Os meus filhos precisavam de ter uma mãe» - Continuação

Imagem de arquivo

Matilde recorda uma história que começou há 12 anos e ainda não acabou. É uma sobrevivente, mas continua com o mundo às costas

Perante o diagnóstico de carcinoma da nasofaringe, o marido de Matilde tentou contactar a médica, mas ela estava de férias. Optou então por lhe contar. O mundo de Matilde caiu-lhe aos pés. Mas conseguiu reunir forças e decidiu «furar o sistema». Foi falar com o patologista, falou com uma amiga do Hospital de Santo António e com mais dois médicos e optou-se por se mudar para o IPO. «Com cunha», admite.

Para não atrasar o processo, fez biópsia e TACs a nível particular e nem sequer accionou o seguro. No IPO do Porto, os médicos decidiram então que iria fazer radioterapia intensa seguida de quimioterapia, porque, no sítio onde estava, o carcinoma não era operável e os gânglios já eram metástases». Este tratamento todo demorou um ano. Professora do ensino secundário, apaixonada pela sua Matemática, conseguiu não meter baixa, no Conselho Executivo ajudaram-na. Queria passar tudo isto e voltar.

Os tratamentos

«Todos os dias fazia radioterapia. Saía de lá muito cansada, enjoada, dorida, muito ferida, queimada até, do nariz até ao peito. Algumas vezes tive de interromper as sessões dadas as sequelas. O meu organismo não aguentava. Tinha um ar muito doente. Lembro-me que me custava muito fazer o jantar.» E os miúdos? «Ela tinha sete/oito anos, ele tinha cinco/seis anos, não se lembram de muito dessa altura, só que eu tinha o cabelo muito branco. Não o pintava. Achava que me podia fazer mal, como as tintas têm químicos¿».

Depois começou a quimioterapia. «E foi ainda pior porque tinha de estar uma semana inteira internada e 23 horas com químicos. «Soltavam-me» uma hora de manhã, para tomar banho. O meu caso era mesmo muito grave, já estava no sistema linfático. Acabei por só fazer três semanas de quimioterapia. Era demasiado agressiva e não aguentei. Comecei então outro tipo de quimioterapia, de três em três semanas uma sessão de uma hora».

Sequelas não mais paparam

O carcinoma «morreu», mas as consequências não mais pararam de aparecer. «Fiquei quase sem saliva, fiquei surda (uso aparelho), tive várias infecções nesta zona (nasofaringe), um osso do maxilar morreu, o que me causou várias infecções. Aliás, suspeita-se que ainda não tenha saído todo.» Matilde explica melhor: «Era uma osteoradionecrose provocada pela radioterapia. Depois de ter tirado um dente, fiquei com um buraquinho na boca, que nunca fechava, não cicatrizava. Por isso, havia infiltração de bactérias. Tive de fazer oxigenoterapia para cicatrizar e, para isso, tive de ir para o Hospital da Marinha, em Lisboa, porque é o único sítio onde existe uma máquina hiperbárica. Fiz tratamentos diários durante três meses».

Mas as sequelas não pararam por aqui. Também por causa da radioterapia, há cerca de dois anos, duas vértebras partiram. «Dentro do meu azar tive sorte porque as vértebras, contrariamente ao que os médicos esperavam, em vez de se afastarem e afectarem a medula, o que me deixaria paralítica, encaixaram uma na outra, o que me causa dores imensas e me impede de fazer quase tudo. Para andar de carro, por exemplo, tenho de usar colarinho».

Leia aqui a conlusão da história de Matilde
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