Cuba: refugiados em Portugal descrentes na mudança - TVI

Cuba: refugiados em Portugal descrentes na mudança

  • Portugal Diário
  • 20 fev 2008, 08:17
Fidel Castro (foto lusa)

Renúncia de Fidel não convence casal cubano. «O país vai levar muitos anos a recuperar»

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Vista no estrangeiro como um sinal de abertura política, a renúncia de Fidel Castro à liderança de Cuba não convence um casal de refugiados cubanos em Portugal, que só acredita em mudanças no país a muito longo prazo.

Os dois cubanos, que pediram à Lusa anonimato por recearem pela segurança da família que ainda mantêm na ilha, continuam sem expectativas de mudança e acreditam que recuperar o país, onde não pensam regressar, levará tantos anos que nessa altura já estarão mortos.

Renúncia é «golpe de teatro»

Ambos encaram a renúncia do líder histórico cubano «como um golpe de teatro» e depositam poucas esperanças em Carlos Lage e Raul Castro, os nomes mais falados para suceder a Fidel.

«Não se passa de uma ditadura a uma democracia por obra da palavra. A renúncia não passa de um acto teatral, porque Fidel anunciou que renunciava ao cargo de presidente, mas não ao de secretário-geral do Partido, que é quem tem mais poder em Cuba. Por isso, vai continuar a opinar, a controlar um qualquer boneco do partido que fique à frente do governo», disse à Lusa o marido, um professor de literatura espanhola, que em Portugal trabalha num parque de estacionamento e dá aulas em part-time.

Com 55 anos, foi preso em Cuba em 1981 «apenas por pensar diferente» e proibido de leccionar. Durante 10 anos, trabalhou como dactilografo, até que conseguiu deixar a ilha com a «ajuda de subornos» e «grande esforço» da mulher, que cumpria um contrato de trabalho como psiquiatra na Zâmbia.

Há sete anos, chegaram a Portugal, onde obtiveram o estatuto de refugiados e, segundo afirmam, se sentiram «livres pela primeira vez». Anos depois, conseguiram trazer as duas filhas, mas na ilha têm ainda os pais, tios e outros familiares com quais comunicam muito esporadicamente por recearem pela segurança deles.

Ela, com 58 anos, exerce psiquiatria em Santarém e está impedida de entrar em Cuba por ter fugido quando cumpria um contrato de trabalho na Zâmbia.

Esperança em Carlos Lage, vice-presidente cubano?

Em declarações à Lusa, afirmou ter dúvidas que a saída de Fidel traga mais liberdade ao povo. «Depois das notícias sobre a sua doença, era impossível a Fidel continuar. Por isso, não é uma surpresa para mim. Se isso vai ser melhor para Cuba, se vai haver uma mudança no sentido que o povo tenha mais liberdade, ninguém sabe».

Colega de curso do actual vice-presidente cubano, Carlos Lage, a mulher elogia a «inteligência» daquele que é apontado como um dos prováveis sucessores do líder histórico de Cuba.

«É médico de formação, pediatra, e um homem muito inteligente que sempre esteve ligado ao partido. Acredito que tenha uma mente mais aberta que pode levar à mudança, tem grande capacidade de liderança, mas as coisas em Cuba são muito complicadas e as decisões, às vezes, estão para lá do presidente.

Opinião diferente tem o marido, para quem «é claro» que Carlos Lage tem perdido influência política nos últimos 10 anos. «Muda-se o homem, mas as ideias e os métodos continuam. A classe militar é muito poderosa e vai continuar a defender os seus princípios de vida multimilionários. Não tenho expectativa que alguma coisa mude, como os cubanos que vivem lá não têm», disse à Lusa.

Acredita que o regime irá continuar a fazer tudo por tudo para manter a imagem do líder histórico, porque «ainda é o único que tem a simpatia de uma parte do povo cubano».

Sobre um eventual regresso a Cuba, são unânimes na resposta: «O país está muito destruído por uma política desordenada e militarista. Vai levar tantos anos a recuperar que, quando isso acontecer, nós já estaremos mortos».
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