Novas oportunidades: 12º ano aos 85 anos - TVI

Novas oportunidades: 12º ano aos 85 anos

Sociedade

«Mestre» João André, como é conhecido, é o aluno mais velho

Uma história de vida marcada pela sede de aprender vai valer nesta quarta-feira o reconhecimento do 12º ano a João André, que, com 85 anos, é o aluno mais velho das Novas Oportunidades, refere a Lusa.

«O que conta mais nas novas oportunidades é o nosso percurso de vida, tudo o que fazemos em todas as latitudes, o nosso comportamento pessoal», afirmou João André, confessando que o que mais gostou neste regresso à escola foi do desenho e da matemática.

Também escreveu muito, deixando claro que as suas preferências vão para a poesia, não só na leitura - é um admirador de António Aleixo -, mas também na escrita - tem um livro de versos pronto a ser editado.

João André, ou «mestre» João André como é carinhosamente chamado, fez a quarta classe em criança e ainda tentou fazer o 5º ano do Curso de Mecânica, em Benavente, quando tinha 50 anos.

Foi na época do 25 de Abril de 1974 e começou a «enervar-se» com o desinteresse dos outros alunos, pelo que não acabou.

Há três anos, quando lhe falaram nas Novas Oportunidades, não hesitou e, há um ano, concluiu o 9º ano.

Recebido de braços abertos

«Não deixei passar esta oportunidade. Fui à Escola Profissional (de Salvaterra de Magos) saber se me podia inscrever, dada a minha idade, e receberam-me de braços abertos». Lida à vontade com as entrevistas e agradou-lhe saber que foi referido pelo Presidente da República como «um incentivo» para os outros.

«Modéstia à parte, a gente sente-se feliz», afirmou, frisando que não voltou a estudar «para dar entrevistas» mas sim para se «valorizar».

Do seu percurso de vida destaca os 38 anos de trabalho na Raret (retransmissor da Voz da América situado na freguesia de Marinhais), onde aprendeu com um colega a fazer desenho geométrico, mas também a passagem por duas fábricas da Bobadela (uma de tubos da Companhia das Águas e outra de caixilharia) e a colaboração de 20 anos com os Bombeiros e ainda na Misericórdia.

Aprender toda a vida

A isto acrescenta muitas viagens (são poucos os países europeus onde não esteve) e o jeito que lhe vem de miúdo para «criar» objectos.

A colecção das suas «obras de arte» tem crescido - tem «muito amor» ao que faz, por isso não vende nada -, tendo o sótão de sua casa preenchido com as esculturas, as pinturas e os trabalhos em ferro que têm saído das suas mãos.

Só no vitral teve a ajuda de uma professora. No resto aprendeu por si, conta, apontando a cadeira de assento em palhinha que arranjou observando um artesão que conheceu numa exposição em que participou, em Torres Novas.

Acresce ainda o gosto de pescar, que herdou do pai, pescador, e de andar de bicicleta - anda duas a três vezes por semana, «pelo menos 50 quilómetros» de cada vez.

Obtido o diploma do 12º ano, João André tem que «reflectir», porque tem ainda «tanta coisa para fazer», não escondendo a vontade de «arranjar qualquer coisa para aprender como escultura, pelo menos na pedra, para ficar mais habilitado».
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