Noite Branca: «Também era para estares morto»

Ricardo Cardoso (Malagueta), amigo de Nuno Gaiato, cujo homicídio a 13 de Julho de 2007 na discoteca «El Sonero» está a ser julgado no Tribunal de São João Novo, no Porto, afirmou esta tarde em tribunal que «Berto Maluco», igualmente assassinado, em Dezembro do mesmo ano, o procurou após a morte do amigo para lhe dizer: «Também era para estares morto».

Minutos antes, a testemunha já admitira em tribunal: «Acho que foi o Berto que matou o Nuno».

Ricardo Cardoso que não assistiu ao tiroteio, mas que se recorda de ver Alberto Ferreira (Berto Maluco) a entrar na discoteca «em direcção ao Nuno», referiu ainda que na véspera jantara com o amigo, tendo nessa altura Gaiato recebido mensagens de Berto a ameaçá-lo.

«Perguntei ao Nuno o que se passava e ele disse-me que o Berto estava a stressar muito por causa daquilo na «Number One» e que lhe ia fazer qualquer coisa».

Ricardo aludia a uma desavença ocorrida «quatro ou cinco dias antes» do crime, na discoteca «Number One», altura em que Gaiato terá agredido um conhecido de «Berto Maluco». Refira-se que este último era responsável pela segurança do espaço e, furioso com o episódio, prometeu vingança.

Na noite de 12 para 13 de Julho, «Malagueta» acompanhou o amigo Nuno Gaiato até à discoteca «El Sonero», onde este último trabalhava como segurança. Chegaram às «22 e tal da noite». Algum tempo depois, Nuno avisou-o. «Ó Malagueta, está aí o Berto Maluco!».

Acto contínuo, «virei as costas para o Berto porque ele era conhecido por ser muito violento e até já tinha sido preso por homicídio», explica. Logo de seguida, prossegue, «vejo quatro pessoas a entrar. Apercebo-me de que o Nuno foge lá para dentro. Ouço tiros lá dentro. Quando chego cá a cima vejo-os a sair. Um estava meio manco (o arguido Hugo Rocha ficou ferido numa perna durante o tiroteio) e era apoiado por outro. Todos saltaram um muro» e desapareceram.

Nos últimos dias, Nuno Gaiato já andava de colete, mas segundo a testemunha, tal devia-se ao receio do «gangue de Valbom», que dias antes protagonizara cenas de tiroteio na discoteca «River Café».

«Estás grosso»

O antigo relações públicas da discoteca «El Sonero», Luzito Veiga (Sony), que na noite do crime, se encontrava à porta com a vítima, recorda-se que estava a falar com Nuno Gaiato sobre o facto de aquele se ter apresentado ao serviço com um colete. «Reparei que o Nuno estava com colete e disse-lhe: «Estás grosso» ao que a vítima lhe respondeu que envergava um colete à prova de bala porque o Berto andava a enviar-lhe mensagens a insultá-lo. «Eu tenho que me prevenir», terá justificado.

Na mesma ocasião, abriu o casaco, tendo-lhe mostrado «uma arma (revólver) de cor escura».

Não chegaram a concluir a conversa, porque nesse preciso momento, por volta da uma da manhã, Berto Maluco, acompanhado de mais três homens, surgiu à porta da discoteca.

«Berto Maluco» empurrou o relações públicas para conseguir entrar, tendo sido seguido pelo arguido Hugo Rocha. Os restantes dois elementos ficaram, «um na entrada, junto à pista, e o outro fora». O facto de os quatro homens apresentarem as mãos atrás das costas, levou-o a temer que estivessem armados.

Quando saíram, disseram uma frase do género: «Pronto, já está, vamos embora».

A testemunha foi confrontada, a pedido da defesa, com as declarações prestadas na PJ quatro dias após o crime, altura em que afirmou que os quatro indivíduos entraram na discoteca.



O tribunal ouviu ainda esta tarde o proprietário da discoteca «El Sonero», Pablo, que afirma ter sido empurrado por um senhor forte a quem Nuno Gaiato fez gestos com a mão para o seguir. Isto de modo a evitar confrontos em público. Mais tarde viu quatro homens a sair.

Hugo Rocha, Vasco Cardoso (Vasquinho) e José Santos (Timóteo) estão a ser julgados pelo homicídio de Nuno Gaiato. O julgamento prossegue na próxima sexta-feira.