«Não atirei com intenção de acabar com a vida dele. Não sei como lhe acertei», disse a mulher, que falava na primeira sessão do julgamento, em que reponde por um crime de homicídio qualificado na forma tentada e outro de detenção ilícita de arma proibida.
O marido da arguida, de 46 anos, também está sentado no banco dos réus, acusado de um crime de detenção ilícita de arma proibida.
O crime, que ocorreu em 10 de julho de 2014, terá ocorrido num quadro de desavenças do casal, com três filhos de 9, 19 e 26 anos.
Na noite em que aconteceu o crime, a mulher disse que tinha discutido com o marido, porque desconfiava que ele tinha uma amante, e bebeu uma garrafa de vinho branco.
«Estava bêbada, desnorteada e dei-lhe um tiro quando ele chegou a casa, mas não foi para matar», afirmou, garantindo ainda que os filhos não viram nada, porque já estavam na cama.
Num depoimento emocionado, a mulher, que se encontra em prisão preventiva, declarou ainda estar arrependida.
A primeira sessão do julgamento também ficou marcada pelas declarações da vítima, que disse ter comprado a caçadeira, que foi usada para o alvejar, «para enfeitar», adiantando que nunca chegou a experimentar a arma.
Questionado pelo coletivo de juízes, quanto às desavenças conjugais, o homem contou que a relação começou a degradar-se há cerca de três anos, quando a esposa começou a consumir bebidas alcoólicas em excesso.
O homem referiu ainda que numa noite, quando regressava a casa vindo do café, depois de sair do carro, ouviu um disparo. «Senti um ardor na barriga e fugi para dentro de casa», disse o homem que afirmou ainda não ter visto quem fez o disparo.
Segundo a acusação do Ministério Público (MP), a mulher decidiu tirar a vida ao marido, munindo-se de uma espingarda que a mesma tinha escondido em casa, e escondeu-se atrás de uns arbustos no jardim à espera que o marido chegasse a casa, o que aconteceu cerca da meia-noite.
A arguida esperou que o marido saísse do carro e quando se encontrava a cerca de 8 ou 9 metros do mesmo, apontou-lhe a arma na direção do tronco e efetuou um disparo que o atingiu na zona do abdómen.
O MP diz que o marido só não morreu porque, «por mero acaso e imprecisão na pontaria da arguida», apenas foi atingido superficialmente.