Moradores da Quinta da Fonte recusam regressar - TVI

Moradores da Quinta da Fonte recusam regressar

Ciganos à porta da Câmara de Loures

Dizem que não há condições de segurança para voltarem a habitar naquele bairro

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Pela terceira noite consecutiva, 53 famílias ciganas da Quinta da Fonte pernoitaram junto à Câmara Municipal de Loures e recusam sair por entenderem que não há condições de segurança para voltarem a habitar naquele bairro.

«Para o bairro nunca mais», afirmaram de forma peremptória à Agência Lusa membros da comunidade cigana da Quinta da Fonte, concentrados em frente à Câmara Municipal desde quinta-feira, após terem abandonado um pavilhão em São João da Talha, onde estiveram instalados durante três dias assistidos pela Cruz Vermelha.

Munidos de colchões e cobertores doados por aquela instituição, decidiram «acampar» no jardim municipal, em tendas cedidas pelo Exército no mesmo bairro, de onde dizem que «foram escorraçados», para protestar contra a decisão da autarquia de Loures em realojar as famílias, que viram as suas casas destruídas na sequência de confrontos e tiroteio com elementos da comunidade africana.

«Se há o inferno ele está ali», afirma de forma convicta Joaquim Cabral, morador há 11 anos na Quinta da Fonte.

«Alternativa é matar ou morrer»

«Há dois anos entraram na minha casa e agrediram-me na cabeça e no estômago. Quase me mataram ali», contou, ao mesmo tempo que mostrou uma notificação da Polícia de Sacavém para confirmar aquilo que diz.

«Já desde essa altura que tenho escrito pedidos de transferência e até agora todos eles foram indeferidos», lamentou, acrescentando que desde então tem vivido em casa de familiares fora da Quinta da Fonte.

A este relato juntam-se outros de quem diz que «voltar está fora de questão, pois a única alternativa é matar ou morrer».

«O mais provável é sair dali morto, pois a reconciliação é impossível», garante Miguel Correia, que assegura que esse sentimento é partilhado por toda a comunidade cigana.

«A Quinta da Fonte é um verdadeiro gueto e nós (comunidade cigana) sentimos que não pertencemos ali», salienta, ao mesmo tempo que contou à Lusa outras histórias de vizinhos e amigos que foram assaltados e agredidos no bairro.

Confrontado com as garantias dadas na sexta-feira pela governadora civil de Lisboa, Dalila Araújo, de que as famílias poderiam voltar ao bairro pois teriam todas as condições de segurança, Joaquim Cabral respondeu que «se a governadora civil experimentasse viver no bairro durante uma semana iria mudar de opinião».

Até não serem encontradas outras alternativas as famílias ciganas prometem não desmobilizar de frente da Câmara Municipal, onde se encontram há três dias.

Algumas famílias têm recebido apoio de comerciantes locais, que têm oferecido pacotes de leite e sandes às crianças.
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