Mega-laboratório de investigação em Braga

Imagine um exército de robôs de tamanho microscópico que entra no seu corpo e ataca células cancerígenas, destrói bactérias e vírus, insere medicamentos em células específicas, desobstrui artérias ou realiza cirurgias minimamente invasivas. Até pode pensar que tudo isto é ficação científica, mas simplesmente insere-se no campo da nanotecnologia.

E o que é a nanotecnologia? «Um dos domínios de expansão mais rápida dos últimos tempos», nas palavras do ministro da Ciência e Tecnologia, «a revolução científica deste século», na opinião da conselheira para a Educação da Galiza, e também uma área em que Portugal e Espanha pretendem apostar fortemente e em conjunto.

Esta colaboração vai concretizar-se com a criação do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), que vai nascer em Braga. O objectivo deste laboratório é «atrair para a Península Ibérica recursos humanos e recursos materiais do mundo inteiro e trazer para a Europa, designadamente para a península, mais um pólo de competitividade no domínio das nanociências e nanotecnologias», explicou o ministro.

O que fazem 600 cientistas juntos?

Mariago Gago falava esta manhã, no Porto, na cerimónia de assinatura de um protocolo de cooperação em nanomedicina entre três universidades portuguesas e outras três da Galiza, que visa criar um programa de pós-graduação ao nível do doutoramento, já este ano. Esta iniciativa, à qual aderiram já 18 instituições portuguesas de investigação e desenvolvimento tecnológico, pretende contribuir também para o INL.

Para o ministro, o que está pela frente, em relação ao INL, «não é só a criação de um laboratório, é a criação de uma base do conhecimento em nanociências e nanotecnologias a nível mundial».

Mas a colaboração entre Portugal e Espanha não vai ficar por aqui. Mariago Gago fala de um projecto já em desenvolvimento na área dos recursos naturais do mar e de cerca de uma dezena de outros em perspectiva.

INL: investimento de milhões

A primeira pedra de lançamento do INL vai ser lançada em Braga, durante a Cimeira Ibérica que decorrerá em Braga, esta sexta-feira e sábado. O concurso de construção arranca nas próximas semanas e o INL deverá estar concluído em 2009.

«Estamos a falar de um laboratório grande», explicou Mariano Gago. «Terá cerca de 200 investigadores (contratados através de um concurso internacional) e empregará 300 a 400 pessoas especializadas. É também um grande factor de desenvolvimento regional», acrescentou. O INL vai custar 30 milhões de euros (custos de construção)mais 30 milhões de euros por ano, a dividir por Portugal e Espanha. Quanto às áreas de intervenção, irá incidir essencialmente na recuperação de tecidos e administração de medicamentos.

A aplicação da nanotecnologia

A nanotecnologia é uma área científica que desenvolve partículas e dispositivos que medem poucos nanômetros (milionésimos de milímetro) e, aplicada à medicina, ou nanomedicina, como é chamada, representa a grande aposta da ciência e da medicina para os diagnósticos e tratamentos de diversas doenças nos próximos anos.

Entre as possíveis aplicações da nanomedicina estão tratamentos de problemas cardiovasculares, diabetes, Alzheimer, eliminação de pedra nos rins, entre outros. Mas a oncologia parece ser uma das áreas mais promissoras para esta tecnologia.

Aliás, investigadores da Universidade de Rice, nos EUA, já desenvolveram partículas microscópicas que, quando injectadas na corrente sanguínea, transportam medicamentos directamente para as células cancerígenas, sem afectar as células sãs. Isto significa que os efeitos secundários da quimioterapia são minimizados.

Para se ter uma ideia da importância desta tecnologia, o governo norte-americano investiu no início deste ano 150 milhões de dólares no Instituto Nacional de Cancro para as pesquisas de nanomedicina.