O coordenador da ‘task force’ para a vacinação defende que a pandemia é um combate que “não se pode perder”, que para si é mesmo “uma guerra” e, por isso, usa o camuflado.
Se olhar para os combates anteriores, que conflito é que prejudicou tanto a economia portuguesa, que conflito é que matou tanto em tão pouco tempo”, pergunta o vice-almirante Gouveia e Melo, em entrevista à Lusa.
E realça: “Se isto não é um combate, então o que é um combate?”
O coordenador do plano de vacinação contra a convid-19 alerta, além do mais, para o facto de Portugal estar "a travar um combate que não pode perder” e que “todos os portugueses” têm de ter a noção disso.
De um ponto de vista pessoal, o vice-almirante, nomeado a 3 de fevereiro, diz que encara a sua função como crítica, “que tem que ser feita com o esforço que for necessário”.
Para mim é uma guerra”, diz, “um combate pessoal, um combate de grupo, [em que] o combatente do outro lado não é um ser humano, mas um vírus e nós temos que puxar todos os recursos que temos para combater esse vírus”, destaca.
E acrescenta: “Encarei [a nomeação] como um desafio, por um lado, por outro como uma obrigação enquanto militar, que jurei fazer tudo pelo meu país”.
Essa é a razão por que Gouveia e Melo descartou o seu uniforme da Marinha, e decidiu usar sempre o uniforme de combate, o camuflado operacional, o único que é comum aos três ramos das Forças Armadas, além do significado simbólico de que se reveste para a instituição e a população em geral.
[O uniforme] quer dizer que não estou sozinho e sou ajudado pelos três ramos das Forças Armadas, tenho pessoas a trabalhar comigo da Marinha, do Exército e da Força Aérea”, diz.
E explicita: “É muito importante passar a mensagem que não é uma única pessoa, mas que são as Forças Armadas que estão a ajudar ao processo. Eu sou, digamos, a ‘ponta do iceberg’”.
Neste sentido, o coordenador da “task force” assume ter uma dupla responsabilidade: “Tenho não só o sentimento de responsabilidade, de conseguir desempenhar a minha função o melhor que posso, a bem de todos os portugueses e de todos nós, mas também a responsabilidade e o sentimento que de alguma forma represento as Forças Armadas e o esforço das Forças Armadas, portanto, para mim falhar é impensável”, sublinha.
Questionado se já tinha tomado a vacina, Gouveia e Melo é perentório na recusa, “enquanto não tiver a certeza de que grande parte dos portugueses, na sua maioria, estão vacinados”.
E mesmo se for convocado para tal, verá: “Com três estrelas já ninguém me obriga a vacinar”.
Na coordenação, "se calhar, a farda ajuda"
O vice-almirante defende que o processo está agora “mais controlado”, após algumas polémicas no arranque, e sugere que a farda de militar “ajuda” no contacto com os diversos agentes.
Não se pronuncia sobre o trajeto do seu antecessor no cargo, Francisco Ramos, a quem reconhece “boa vontade”, notando que “todas as pessoas se esforçaram ao máximo para fazer o melhor que podiam nas suas funções”, mas ressalva que o processo está atualmente no “bom caminho” e que as regras estão a ser cumpridas.
O processo de vacinação está mais controlado, há uma maior consciencialização e responsabilização de todos os atores que estão a participar e, portanto, está a correr relativamente bem. Pode sempre acontecer qualquer coisa e temos de estar atentos, mas não me parece que haja algum problema muito grave ou uma elevada preocupação neste momento. Os grandes problemas são receber as vacinas, administrar as vacinas com regras e que essas regras sejam cumpridas. E isso está a acontecer neste momento”, refere.
Entre os primeiros atos depois de assumir em 3 de fevereiro a coordenação da ‘task force’, segundo Henrique Gouveia e Melo, esteve o contacto com intervenientes do setor da saúde, nomeadamente a Ordem dos Médicos, a Ordem dos Enfermeiros e associações de doentes. Instado sobre um possível défice de diálogo na anterior coordenação, Henrique Gouveia e Melo prefere centrar as diferenças que a sua condição de militar trouxe ao processo.
Tenho a certeza de que o meu antecessor fazia esse diálogo e muitas vezes até me chamou para reuniões enquanto responsável por uma das partes do sistema. Portanto, tenho a certeza de que ele fazia esse esforço. Se calhar, a farda ajuda, não sei... De facto, tenho sentido essa abertura e esse apoio. Tento transmitir a informação e, com a informação que me transmitem, melhorar o que puder o plano e o processo de vacinação em si”.
Sobre esse contacto, o coordenador da ‘task force’ assegura ter sido “muito bem recebido”, enaltecendo uma interação “muito cordial, muito aberta e muito franca” e o sentimento de “confiança mútua”. Como consequência, pediu então “uma maior verificação e responsabilização no seu processo de vacinação” a estas instituições.
Dialogar com esses atores é importante não só para receber dados e informação – e, portanto, poder processar essa informação e trazê-la ao plano de vacinação, melhorando-o -, como também para informar esses atores das limitações que eles próprios desconhecem. Uma vez informados, percebem muitos dos problemas e não fazem exigências um bocado deslocadas, quer da realidade, quer do tempo em que estamos”, explica.
Com a aproximação do fim da primeira fase, “num momento de escassez de vacinas” e que foi “concentrada em salvar vidas”, o vice-almirante reforça a convicção de terminá-la “em meados de abril”, sem esconder que está “perfeitamente otimista” na concretização desse objetivo, além das outras metas definidas para o plano de vacinação.
Também tinha na primeira fase a necessidade de adquirir resiliência da resposta do Estado na situação de pandemia, principalmente, na área da saúde. Isso também já foi conseguido e está a ser terminado. Estamos a estender a resiliência para outras áreas do Estado”, observa.
E sintetiza: “O grosso da primeira fase, que tem a ver com o conceito de salvar vidas e proteger as pessoas mais fragilizadas perante a pandemia, vai acabar, seguramente, até meados de abril. E vai ficar resolvida”.