Racismo contra alunos portugueses - TVI

Racismo contra alunos portugueses

(Foto de arquivo - Lusa)

Foram impedidos de ter aulas durante mais de um mês. Professora que ensina Língua Portuguesa conta como foi tratada na escola de St. Gallen, Suíça. Atitude do director foi «xenófoba» e «discriminatória», acusa. No próximo ano a docente já não irá leccionar

Relacionados
Durante mais de um mês, 95 alunos portugueses de uma escola na Suíça viram-se impedidos de frequentar as aulas. Esta sexta-feira vão voltar a aprender, mas a professora, também ela portuguesa, já sabe que no próximo ano não vai continuar a leccionar na Escola Spalterini, em St. Galen.

«A situação está resolvida para os alunos, mas não para mim, porque esta manhã o meu advogado informou-me que no acordo assinado entre a embaixada e a escola ficou garantido que eu só daria aulas até ao final do ano», contou ao PortugalDiário Teresa Soares, professora de Português no estrangeiro há 25 anos, exercendo funções em solo helvético há cinco, depois de duas décadas na Alemanha.

Esta situação começou a 27 de Janeiro, quando o director da escola (Michael Werner) impediu os alunos e a professora de participarem nas aulas de Língua Portuguesa, alegando que não deixavam a «sala limpa», o quadro ficava «mal apagado» e que «desapareciam coisas». Na altura, alunos, pais e docente consideraram a atitude do director «xenófoba» e «discriminatória».

Agora, a professora reitera as acusações e rejeita as queixas. «Foi encontrada uma solução para limpar a sala, com a mãe de um dos alunos, que será paga pela Embaixada, mas ninguém me informou que deixaria de ser professora no próximo ano», relatou, acusando a coordenadora do ensino da Embaixada de Portugal na Suíça, Madalena Silva, de tratamento prepotente.

Os alunos regressam já nesta sexta-feira às aulas, que funcionam em horário extra-curricular. «Durante a paragem houve apenas hipótese de encontrar uma solução para o grupo da quarta-feira, que é composto por sessenta alunos, pois foi alugado um espaço onde tiveram aulas, ainda que tenham falhado duas sessões. Os outros, que até estavam num nível mais avançado, entre o sétimo e décimo ano, perderam a matéria e agora será difícil cumprir o programa», frisou a docente.

Acusações e mal-entendidos

Teresa Soares não tem dúvidas de que existe um «comportamento xenófobo» por parte de quem dirige a escola pública: «Troquei vários e-mails e tive várias conversas com o director, que foi tendo uma atitude cada vez mais agressiva. Em quatro anos que leccionei naquela escola, os meus alunos nunca tiveram um único problema, nem partiram nada. Numa turma com sessenta alunos é normal nem tudo ficar arrumado, mas para ficar como eles queriam não poderia haver aulas».

A única acusação formal por parte da direcção da escola foi de que «a sala de aula não ficava limpa» e isso mesmo desencadeou uma reacção por parte da Michael Werner, que só aceitou voltar a fornecer o espaço necessário a partir do momento em que houvesse uma pessoa que fizesse a limpeza. «Tenho mais de trinta anos de profissão e nunca vi nada assim. Isto vem na sequência de algumas queixas de alunos, que sabem não ter muitas hipóteses de chegar longe neste sistema de ensino. É muito raro conseguirem chegar ao ensino superior», frisou, alertando para as diferenças de tratamento, não só na Suíça, mas noutros países com grandes comunidades lusófonas.

Escola nega xenofobia

Contactada pela Agência Lusa, fonte da escola disse que «houve distúrbios graves provocados pelos alunos portugueses, porque não eram vigiados nem acompanhadas pela professora». A fonte desmentiu tratar-se de um acto xenófobo, uma vez que a escola é frequentada por árabes, croatas, italianos e sérvios, com os quais não tem havido problemas.

«Aconteceu não por serem portugueses, mas por falta de acompanhamento e autoridade», salientou. O PortugalDiário tentou contactar a Embaixada e a própria escola, mas não obteve resposta.
Continue a ler esta notícia

Relacionados