Entre-os-Rios: a dor não vai embora - TVI

Entre-os-Rios: a dor não vai embora

Ponte de Entre-os-Rios

Sete anos depois, o luto ainda está por fazer. Familiares das vítimas cujos corpos nunca apareceram continuam a precisar de apoio psicológico, que acabou em Outubro. «Não vale a pena pedir indemnização», dizem

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Sete anos depois da tragédia de Entre-os-Rios, que provocou 59 mortos, as memórias ainda são muito dolorosas para as famílias das vítimas cujos corpos nunca apareceram.

Estas famílias continuam a reclamar apoio psicológico para ultrapassar o luto que não puderam fazer.

«As necessidades de ajuda psicológica são mais do que evidentes. Se há pessoas que estão a pagar consultas do seu próprio bolso, é porque precisam mesmo dessa ajuda», afirmou à Lusa Horácio Moreira, presidente da Associação de Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios (AFVTE-R).



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Horácio Moreira, que falava à Lusa na véspera do sétimo aniversário da tragédia, onde perdeu o pai e a mãe, salientou que a maioria das pessoas que ainda necessitam de apoio psicológico «são familiares das vítimas cujos corpos nunca foram encontrados».

Na noite de 4 de Março de 2001, o colapso do tabuleiro da ponte de Entre-os-Rios provocou a morte de 59 pessoas, mas, apesar das intensas buscas desenvolvidas, um número elevado de corpos nunca chegou a ser encontrado.

O apoio psicológico que estava a ser assegurado por uma psicóloga contratada pelo Ministério da Saúde terminou em Outubro de 2007, por não ter sido renovado o contrato com aquela especialista.

«Foi uma decisão de gabinete, sem o mínimo conhecimento da situação», denunciou Horácio Moreira, recordando que «a psicóloga não foi ouvida e a associação também não, apesar de serem os que melhor conhecem a realidade».

Este problema foi também referido à Lusa por António Rodrigues, presidente da Junta de Freguesia de Raiva, onde residiam 34 das 59 vítimas do acidente de Entre-os-Rios. «Isto não é justo. Há pessoas ainda com muitas dificuldades», admitiu o autarca, salientando que essas pessoas «estão muito debilitadas e sentem grandes dificuldades para reatar o seu dia-a-dia». «Não estamos a pedir dinheiro, mas apenas ajuda psicológica para estas pessoas que tanto sofreram», frisou.

O presidente da Junta de Freguesia de Raiva e o líder da Associação de Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios estão de acordo que o maior problema para estas pessoas reside na ausência de um corpo que lhes permitisse «fechar o luto».

«O facto de só terem aparecido nove corpos das vítimas que eram desta freguesia dificultou muito as coisas. As famílias das restantes 25 vítimas não puderam fechar o luto e ainda hoje se ressentem disso», afirmou o autarca.

Para tentar apoiar as cerca de três dezenas de familiares das vítimas que ainda necessitam de apoio, a AFVTE-R conta com a ajuda de uma psicóloga que está a funcionar em regime de voluntariado. «Perante a falta de resposta das autoridades competentes, estamos a estudar a possibilidade de contratar a psicóloga, para que comece a dar consultas a quem necessita de ajuda», revelou Horácio Moreira.
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