A quota do mercado de medicamentos genéricos em Portugal ronda os 49%, o que significa que apenas metade dos utentes beneficiam destes fármacos, revela um estudo, segundo o qual ainda existe margem de progressão na adoção destas terapêuticas.
O Estudo de Perceção dos Medicamentos Genéricos, promovido pela APOGEN – Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares salienta que estes fármacos permitiram, “só nos últimos 10 anos”, libertar recursos das famílias e do Serviço Nacional no valor de quase 4,3 mil milhões de euros para serem aplicados na inovação em saúde, um valor que corresponde a quase dois anos de despesa do SNS com medicamentos.
Em declarações à agência Lusa, a presidente da APOGEN, Maria do Carmo Neves, afirmou que os genéricos promovem “um acesso mais equitativo ao medicamento, são mais custo-efetivos, tratam um maior número de pessoas como o mesmo custo”.
Libertam também recursos financeiros para que o Serviço Nacional de Saúde introduza a inovação, disse, exemplificando que em 2020 permitiram uma poupança de 450 milhões de euros e já este ano de 357 milhões de euros.
Por outro lado, garantem “o acesso a tratamentos de elevada qualidade, segurança e eficácia para os utentes”, contribuindo para o bem-estar da população, além de serem “os grandes promotores do emprego qualificado e melhor remunerado” em Portugal.
O estudo realizado pela GFK Metris, divulgado hoje no evento “Desafios Genéricos da Saúde”, organizado pela APOGEN e pelo Expresso, refere que, apesar dos utentes, médicos e farmacêuticos confiarem e adotarem estes medicamentos, Portugal está abaixo da média europeia.
“Se olharmos para os países europeus mais desenvolvidos economicamente, e a Alemanha tem que ser um exemplo, vemos que a quota de mercado dos medicamentos genéricos ultrapassa os 70%”, assinalou a responsável.
A APOGEN promoveu o estudo para “aferir os determinantes, as barreiras e os facilitadores no processo de adoção” dos genéricos, principalmente nesta fase pós-pandemia em que “o país e os cidadãos enfrentam incerteza e grandes constrangimentos financeiros” e o SNS “sofre a pressão do retomar das atividades assistenciais”.
Para Maria do Carmo Neves, o pós-pandemia vai ter de ser diferente do pré-pandemia, para que ainda mais portugueses tenham acesso à saúde.
“Em cinco anos temos que ser capazes de que, no mínimo, seis em cada 10 doentes possam usufruir das vantagens dos medicamentos genéricos”, defendeu.
Para isso, desafiou todos os intervenientes do setor a unirem-se para conseguir que estas tecnologias de saúde representem em Portugal níveis de adoção idênticos aos encontrados nos países europeus mais desenvolvidos economicamente.
Desde o ano 2000 que os portugueses beneficiam da utilização dos genéricos. Maria do Carmo Neves reconhece que houve “uma evolução muito favorável” graças ao trabalho conjunto da indústria farmacêutica, que investiga, desenvolve, fabrica e comercializa os medicamentos genéricos, dos médicos, dos farmacêuticos e do Infarmed.
“Mas também do próprio cidadão que tomou consciência de que tem disponível uma alternativa terapêutica com a mesma eficácia com a mesma segurança e com um custo no mínimo inferior a 50%”, enfatizou.
Só que apesar desta evolução, que eu considero muito positiva, a quota de medicamentos genéricos em Portugal ainda não chegou aos 50%. Estamos em 48,7% e está estagnada há cinco anos”, lamentou.
No seu entender, estes fármacos são “pilares fundamentais” sem os quais muito dificilmente se conseguiria assegurar o “direito fundamental à proteção da saúde”.
Em Portugal, sustentou, “as despesas das famílias, em relação à saúde, são das mais altas na Europa”, sendo que a evolução da quota dos genéricos representa “uma oportunidade em crescimento, já que a sua elevada adesão espelha um importante indicador de desenvolvimento social”.
Os medicamentos genéricos cobrem neste momento mais de 70% das terapêuticas.