Há uma carta nova no processo - TVI

Há uma carta nova no processo

Julgamento do <i>serial killer</i> - Foto Paulo Novais para Lusa

Ex-cabo pediu ao irmão para revelar em tribunal que o tinha visto à hora do crime e que o arguido falava muito com Rogério, a pessoa que António Costa acusa de ter morto as três jovens: «Se alguém disser isso, é mentira», garante visado

«Cada vez que desaparecia uma garota, o senhor ia a casa do Costa pedir sacos, o que é uma coisa mais ou menos discreta!?». À ironia do juiz Jorge Loureiro, o tio de Mariana, Rogério Isidoro, a quem o arguido acusa pelo homicídio das três jovens de Santa Comba, reagiu espantado. «Não estou a perceber».

O magistrado insistiu no mesmo tom jocoso: «Ou o senhor é tolo ou então o senhor Costa não sabe o que está a dizer». Rogério estava demasiado nervoso para entender as ironias e ripostou nervoso: «Ele sabe muito bem o que está a fazer».

Na versão do arguido, Rogério pediu-lhe sacos de ração na véspera dos desaparecimentos. Costa justificou assim o facto de as vítimas terem sido colocadas em sacos iguais aos que tinha em casa.

«Se alguém lhe disser que passava a vida na conversa com o Costa, o que é que o senhor dirá?», indagou ainda o magistrado, ao que a testemunha respondeu sem hesitar: «Se alguém disser isso, é mentira».

O juiz referia-se agora a um novo escrito em papel timbrado do Estabelecimento Prisional de Santarém, onde o arguido se encontra detido, enviado anonimamente à PJ no passado dia 13 de Junho e só agora remetido ao processo.

Nesse escrito, que o arguido dirige ao irmão «Zé», o ex-cabo dá-lhe instruções sobre o que deverá referir quando for chamado a depor em julgamento.

António Costa pede ao irmão para se recordar e referir em audiência que o ex-cabo e Rogério falavam com frequência. Além disso, pede-lhe ainda que refira tê-lo visto no dia 8 de Maio de 2006 no jardim de casa, data em que alegadamente terá morto Mariana. «Tu passaste e eu acenei-te», lembra-lhe António Costa, acrescentando que tudo isso aconteceu perto da hora do almoço, precisamente a altura em que a segunda vítima desapareceu.

Apesar da «consciência tranquilíssima», a testemunha não evitou as lágrimas e foi com voz embargada que referiu: «Não está fácil». Rogério chegou a ser arguido neste processo, está desempregado, e admite que muito recentemente terá perdido uma oportunidade de trabalho por causa da entrevista que o arguido deu à RTP em que o acusa da autoria dos três crimes. «Nunca terei a certeza se foi por isso, mas . . .».

Antes dele, já a sua mulher, Isabel Sousa, se tinha emocionado na sala de audiências ao recordar a vida do casal desde o desaparecimento da sobrinha: «Tem sido simplesmente terrível».

«Mortas? Que eu saiba só há uma!»

O tribunal ouviu ainda durante a tarde o bombeiro de Santa Comba, António Pedro Abreu (conhecido por Tonito São Pedro), e um antigo membro do mesma corporação, João Carvalho, que confirmaram terem sido abordados pelo ex-cabo da GNR, após o aparecimento de um corpo na Barragem do Coiço. António Costa colocou perguntas sobre a identificação do cadáver, designadamente o sexo e a indumentária. Perguntas que ficaram sem resposta porque os dois bombeiros desconheciam pormenores.

Também a funcionária do Ministério Público de Santa Comba, Elisabete Sousa, confirmou que o ex-cabo a procurou «por duas vezes», uma delas após o aparecimento do cadáver de uma das jovens, mostrando-se muito nervoso e receoso sobre as investigações.

Elisabete recordou ainda o facto de o ex-cabo ter empregue a expressão «raparigas mortas». E ripostou: «Mortas? Que eu saiba só há uma. As outras estão desaparecidas». Costa respondeu: «assim seja».

Mais tarde, o arguido voltou a insistir. «Há um corpo com blusão de ganga, saia de ganga e soutien branco. A PJ vai saber de quem se trata». Elisabete ficou espantada: «Senhor Costa, o senhor acaba de me descrever a Mariana». Costa ficou incomodado e disse que «estava a comprometer o Tonito São Pedro» um bombeiro de Santa Comba que lhe teria dado a informação.

O arguido ouviu os depoimentos da tarde em jejum. Depois de nas anteriores sessões ter prescindido do almoço, esta quarta-feira já não lhe levaram a refeição.

O julgamento prossegue a 27 de Junho, pelas dez horas.

Leia a 1ª parte: «Serial Killer»: «É tudo mentira»
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