Na dúvida, absolva o arguido - TVI

Na dúvida, absolva o arguido

«Assassino em série» de Santa Comba Dão

Serial Killer: Defesa diz que não ficou provado que o arguido cometeu os crimes. Acusação não tem dúvidas e pede pena máxima. Advogado provocou o ex-cabo e instou-o a confessar, para não ficar conhecido como o matador. António Costa considera-se «inocente»

Durante as alegações finais do caso do serial killer, a advogada de defesa de António Costa, Carla Bettencourt, fez questão de salientar o resultado da perícia psiquiátrica feita ao arguido.

«É imputável, não tem nenhuma doença mental, por isso, tem consciência daquilo que diz quando acusa outra pessoa pelo crime», afirmou, referindo-se ao tio da Mariana, que o cabo diz ter sido o verdadeiro autor dos crimes.

Segundo o exame, o arguido não tem nenhuma «psicopatia», o que, segundo a advogada, seria a única explicação para que um homem que sempre foi calmo começasse a matar. A defensora recorda ainda que o exame diz que António Costa não tem «comportamentos sexuais promíscuos», o que poderia explicar que os homicídios tivessem motivações sexuais, como foi alegado pelo MP e pelos advogados de acusação.

Para a defensora, «não existe nexo de causalidade entre o arguido e os crimes» e não foi produzida, durante o julgamento, «prova testemunhal cabal». A advogada diz ainda que os direitos do arguido estiveram em causa desde o início, já que «foi sempre tratado como culpado e não como presumível autor». Carla Bettencourt diz mesmo que as testemunhas foram condicionadas umas pelas outras e pela comunicação social, tendo alterado testemunhas que deram à PJ e apresentando falhas de memória em tudo o que pudesse beneficiar o arguido.

A advogada diz ainda que a investigação se baseou em suposições, deixando de fora outros suspeitos, referindo-se ao tio de Mariana, que por morar na casa dela, podia ter acesso à oportunidade.

No final, disse que, apresentadas «as dúvidas» face ao que a acusação diz ter provado, o juiz deveria atentar na base do direito penal, isto é, em caso de dúvida absolver o arguido.



«Considero-me inocente»

«Não retiro uma palavra do que disse. Considero-me inocente». Estas foram as últimas palavras que o ex-cabo António Costa proferiu nesta sessão do julgamento. Pelo meio, chegou a insultar dois advogados e chorou convulsivamente.

O advogado da família de Joana, a última das vítimas, Leopoldo Camarinho, provocou o arguido, que se mostrou agitado e chegou mesmo a insultar o causídico. «Se quiser ser recordado como um homem bom, confesse os crimes, senão caberá ao povo adjectiva-lo e o povo tem uma imaginação fértil. Será conhecido como o matador de Cabecinha de Rei, ou o assassino em série de jovens inocentes», disse o advogado, dirigindo-se directamente a António Costa, que foi caracterizado como dando muita importância à sua «boa» imagem pública.

Leopoldo Camarinho caracterizou o arguido como sendo «insensível, com frieza afectiva e obsessão sexual». O causídico disse ainda que o cabo violou Joana depois de morta, facto que nunca foi provado pelos exames médicos, mas que considera ser a explicação para o facto de a vítima ter aparecido com as calças descidas e as cuecas mal vestidas. O advogado afirmou ainda que António Costa já tinha mais duas potenciais vítimas em mente e que estaria apenas à espera de «mais seis meses» para as matar.

O advogado considera que a prova produzida durante o julgamento foi esmagadora e perante a perversidade com que foi cometido o crime, o motivo fútil e o facto de o arguido não apresentar nenhuma circunstância atenuante, pediu a pena máxima.

Para o causídico, o ex-cabo não matou apenas para satisfazer os seus desejos libidinosos, mas pelo prazer de matar.

António Costa é acusado de 10 crimes: três de homicídio qualificado, três de ocultação de cadáver, dois de coacção sexual na forma tentada, um de profanação de cadáver e um de denúncia caluniosa.
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