Os suspeitos do homicídio do proprietário do veleiro «Intermezzo», que naufragou dia 17 ao largo do Algarve, revelaram ter deixado o seu automóvel, que a Polícia Judiciária procura desde o naufrágio, em Vila Real de Santo António.
«Deixámos o nosso parque de campismo. Não queria deixar o carro em Olhão porque havia no porto uma festa e pessoas pouco recomendáveis. Viajámos depois para Vila Real de Santo António, onde deixei o carro num parque, e voltámos para Olhão de comboio», afirmou Thierry Beille, preso preventivamente na cadeia de Portimão, à revista francesa Paris Match.
Numa entrevista que será publicada quinta-feira naquela revista, e à qual a «Lusa» teve acesso, Thierry Baille, de 51 anos, e Corine Caspar, de 48, insistiram na versão contada às autoridades após serem salvos do naufrágio e reiteraram que o proprietário, André Le Floch, ainda estava vivo antes de o barco virar.
Os alegados homicidas do dono do «Intermezzo» mantiveram a versão de que ataram a alegada vítima depois de esta ter tentado violar a mulher, quando faziam um cruzeiro pela costa algarvia.
«Na segunda noite do nosso cruzeiro, a Corine estava a preparar o jantar quando ouvi gritar: «Ajuda!», afirmou Thierry, acrescentando que apanhou «uma barra e um novelo de corda para amarrar André».
Thierry adiantou que o proprietário do «Intermezzo», que na altura em que André atacou Corine terá dito «agora vais pagar a viagem», ainda tentou ripostar, «tirando do bolso uma faca», mas a mulher atingiu-o então com um objecto, «provavelmente uma caçarola».
A revista avança ainda como Corine Caspar - detida em Odemira -, contou ao advogado oficioso, Francisco Pagarete, como conheceu Andre Le Floch num café próximo do porto de Olhão.
Recordou-me o meu avô
«Vi-o numa mesa vizinha e recordou-me o meu avô, com a sua barba branca e os seus cabelos ondulados. Falou-me do seu barco e eu disse que adoraria navegar», explicou a francesa.
Thierry contou também como o casal viajou para Portugal no final de Junho para «fazer parapente».
«Procurámos locais, dormindo em parques de campismo, e chegámos ao Sul no dia 10 de Agosto. Um dia deixei a Corine em Olhão: queria apanhar um pouco de ar. Eu parti à procura de um local para fazer parapente. À noite ela falou-me de André e do seu barco. A 14 de Agosto, liguei a esse senhor para perguntar se a proposta de nos levar ainda estava de pé», explicou Thierry.
O suspeito acrescentou que pretendia «saber se era preciso fazer alguma coisa e se ele queria dinheiro em troca» e André Le Floch «respondeu que não».
Foi então que os dois decidiram que não queriam deixar o carro em Olhão e rumaram a Vila Real de Santo António, onde deixaram o veículo num parque de estacionamento da cidade e apanharam um comboio de regresso a Olhão, onde seguiram de barco até ao «Intermezzo».
Amarrou-o, deu-lhe bolachas e calmantes
Thierry Baille explicou ainda que, no veleiro, depois de amarrarem o tripulante, «Corine deu bolachas a André e tentou dar-lhe calmantes para diminuir a sua agressividade», embora sem ter a certeza que ele os tenha tomado.
«Ela perguntou depois porque é que ele tinha tentado abusar dela. Ele não respondeu. Depois ela foi dormir um pouco», afirmou.
O vento aumentou então de intensidade e como a vela do «Intermezzo» estava içada era necessário descê-la, mas o detido não pediu conselhos a André sobre a forma como fazer a operação, pois «ele estava ensonado por causa dos comprimidos».
«Tinha receio de que voltasse a ficar agressivo se o libertasse. Sabia que ele não seria útil», disse.
Não teme uma pena pesada
O suspeito garantiu à revista Paris Match que não o preocupa uma pena pesada, mas sim a forma como vive na prisão de Portimão.
Thierry Beille afastou ainda a possibilidade de ter cometido o crime para roubar o barco, considerando que se quisesse fazê-lo teria escolhido «um mais fácil de manobrar».
«Agora vais pagar a viagem»
- Portugal Diário
- 30 ago 2006, 18:57
Suspeitos de matar velejador contam tudo. Até a tentativa de violação
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