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6,5,4,3,2,1 - E as torres foram abaixo

O pó do passado

Em segundos, duas das seis torres do complexo turístico da Torralta caíram. Em Setúbal, opiniões dividem-se entre aprovação e apreensão em relação ao futuro. Sócrates fala em projecto que «honra Portugal» e Belmiro sublinhou a criação de riqueza e de postos de trabalho

Mal recebeu o sinal, o primeiro-ministro, José Sócrates, detonou os 95 quilos de explosivos e fez implodir duas das seis torres do complexo turístico da Torralta, em Tróia.

A implosão decorreu conforme era esperado, totalmente controlada, e fez elevar uma nuvem de fumo que cobriu a zona durante uns quatro minutos.

Houve muitas palmas, um espectáculo de segundos para todos verem e admirarem, mas, em Setúbal, muitos dos sadinos que assistiram à implosão torcem o nariz ao novo empreendimento, receando que as praias passem «a ser apenas para os ricos».

Em Setúbal foram distribuídos oito mil binóculos para que todos pudessem ver a implosão e as festas da cidade antecipadas um dia. Mas as opiniões dividem-se entre a apreensão, a aprovação e o optimismo reservado.

Autarcas e governantes e o próprio Belmiro de Azevedo têm opinião bem diferente. O optimismo é geral. O primeiro-ministro disse que é um projecto que «honra Portugal, é o que eu chamo um trabalho bem feito». E continuou: «É um bom projecto para o turismo, mas também para o ambiente. E foi o primeiro projecto deste Governo de interesse nacional». Estava assim justificada a sua presença no local.

Sócrates sublinhou ainda que «o investimento de 400 milhões de euros e o trabalho directo e indirecto têm grande importância não só na região, mas também para todo o país». Trata-se, acrescentou, de um «projecto muito importante do ponto de vista económico e mostra também grande confiança na economia portuguesa, no seu futuro».

Belmiro de Azevedo alinhou no mesmo tipo de discurso. Classificou a implosão como um «espectáculo», algo que «tinha de ser feito para se fazer uma coisa melhor», e considerou que o projecto de Tróia tem que ser competitivo a nível nacional e internacional. «Tem que criar riqueza, postos de trabalho e também conseguir reduzir o défice do Estado».

O presidente da Sonae lamentou, no entanto, que tivessem sido necessários oito anos para este processo ser iniciado. «Foi muito tempo de paralisia burocrática». Aliás, o ministro da Economia mostrou-se «orgulhoso» por ter sido o ministro que desbloqueou o projecto de Tróia.

O presidente da Câmara de Setúbal, por seu lado, considerou tratar-se de um momento «de grande importância para o distrito e para a cidade de Setúbal», até porque como centro urbano mais próximo de Tróia, o desenvolvimento desta significa o desenvolvimento da outra.

Já o presidente da Câmara Municipal de Grândola, Carlos Beato, enalteceu a demolição, considerando tratar-se de uma «resposta clara e objectiva a todos os que receiam a política de betão». «É um projecto de grande qualidade e de conservação da natureza. Mas também um importante factor para resolver os problemas de desemprego na costa alentejana», referiu. E concluiu: «Contámos e acreditámos no Governo. Deus quis, nós sonhamos».

Também o ministro do Ambiente, Nunes Correia, realçou a importância desta demolição, afirmando que representa o início de um novo modelo turístico que servirá melhor os interesses do país. «A demolição destas torres tem um grande valor simbólico. Há uns 20 ou 30 anos, quando se pensava em desenvolver o turismo, as pessoas levavam modelos urbanos para zonas bonitas. Hoje percebe-se que não é elevando edifícios urbanos que se qualifica o turismo, pelo contrário».

Quanto à possibilidade de ocorrerem mais demolições no país, o ministro do Ambiente foi muito claro ao afirmar que «há muitos outros casos em que isso se aplica».

Sobre o mesmo tema, o primeiro-ministro fez questão de salientar que outros empreendimentos poderão vir abaixo, «desde que seja em prol de um melhor urbanismo e turismo».

O ministro do Ambiente anunciou ainda que até ao fim do próximo ano vai estar concluída a revisão do plano de ordenamento do território alentejano, sendo que o actual prevê para a península de Tróia cerca de 14 mil camas. Mas o ministro não quer ceder a pressões e garante que vai insistir na qualidade do turismo da região.
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