Zelensky compara invasão russa ao colonialismo e sugere que Lula tem uma "compreensão limitada" do mundo - TVI

Zelensky compara invasão russa ao colonialismo e sugere que Lula tem uma "compreensão limitada" do mundo

  • CNN Portugal
  • BCE
  • 7 ago 2023, 13:37
Volodymyr Zelensky (Ukrainian Presidential Press Office via AP)

Analistas consideram que o presidente ucraniano não esteve bem na mais recente entrevista que concedeu a um grupo de jornalistas latino-americanos. E há mesmo quem diga que este "não terá sido dos momentos mais felizes de Zelensky, do ponto de vista político"

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Volodymyr Zelensky está a ser criticado por comparar a invasão russa da Ucrânia ao colonialismo e colocar em causa a "compreensão" do presidente brasileiro sobre o mundo.

Este domingo, o presidente ucraniano recebeu vários jornalistas de órgãos de comunicação social latino-americanos para uma entrevista no seu gabinete presidencial, em Kiev, na qual apelou à experiência da América Latina com o colonialismo para pedir solidariedade para a causa ucraniana.

"Vocês sabem perfeitamente o que significam as consequências do colonialismo", declarou o presidente ucraniano, dirigindo-se aos jornalistas latino-americanos, acrescentando de seguida que Vladimir Putin "não é diferente de qualquer outro colonizador", que "mente e manipula constantemente".

Foi neste contexto que Zelensky mencionou o presidente brasileiro, Lula da Silva, acusando-o de "coincidir" as suas narrativas com as do presidente russo. "Espero que [Lula] tenha opinião própria. Não me parece necessário que os seus pensamentos coincidam com os pensamentos do presidente Putin", argumentou.

O chefe de Estado ucraniano reagia às recentes declarações de Lula da Silva num encontro com jornalistas estrangeiros em Brasília e no qual o presidente brasileiro lamentou que nem Zelensky nem Putin estejam disponíveis para voltar à mesa de negociações. “Não temos ouvido nem de Zelensky nem de Putin a ideia de que vamos parar [a guerra] e vamos negociar. Por enquanto, os dois estão naquela fase de que ‘eu vou ganhar, eu vou ganhar, eu vou ganhar’, sabem? Entretanto, as pessoas estão a morrer."

No mesmo encontro, o embaixador Celso Amorim, conselheiro especial de Lula da Silva para as relações internacionais, argumentou que as preocupações de segurança da Rússia não devem ser esquecidas num eventual acordo de paz. “Não é possível deixar de fora as preocupações de segurança da Rússia, elas são reais”, defendeu.

"Só Putin e Lula falam sobre a segurança da Rússia"

Na resposta, Zelensky acabou por misturar as duas declarações, assumindo que as palavras do assessor eram as mesmas do governo brasileiro. “Parece-me que o presidente Lula é uma pessoa experiente. Mas eu não o entendo muito bem. Ele acha que a sociedade não entende o que está a acontecer. Essas afirmações não trazem paz, de forma alguma. É estranho falar sobre a segurança da Federação Russa. Só Putin e Lula falam sobre a segurança da Rússia, sobre as garantias que precisam de ser dadas para a segurança da Rússia", apontou.

“Para ser sincero, eu achava que ele [Lula da Silva] tinha uma compreensão mais ampla do mundo”, observou.

Estas declarações de Zelensky deixaram o comentador da CNN Portugal Azeredo Lopes "estupefacto".

"São declarações muito estranhas do ponto de vista político. Quando alguém diz que uma pessoa não tem uma grande compreensão do mundo, está a dizer que é um tolinho e que não consegue perceber as questões fundamentais", argumentou, assinalando que este tipo de declarações implica depois uma resposta do outro lado, o que não ajuda num contexto em que a Ucrânia precisa de reunir o maior apoio possível para combater as forças russas.

"Nas relações diplomáticas, muitas vezes temos de falar com quem não gostamos e não temos sequer empatia pessoal. Mas, se o objetivo principal era transmitir uma ideia positiva da Ucrânia como Estado agredido, que precisa desesperadamente de apoio para enfrentar o agressor, creio que a última coisa que deveria passar pela cabeça daquele que representa a Ucrânia era insultar o presidente do Brasil, ainda por cima perante os seus vizinhos latino-americanos", destacou Azeredo Lopes.

"Tratar Lula como um tolinho não terá sido dos momentos mais felizes de Zelensky"

Além disso, a comparação da invasão russa ao colonialismo também não é entendida como "uma estratégia brilhante" aos olhos do comentador da CNN Portugal, que duvida que este tipo de declarações "pegue muito bem" na opinião pública latino-americana.

"Confesso que me parece que tratá-lo [a Lula] como um tolinho que não percebe nada do mundo, sabendo-se que o Brasil é o maior país da América Latina e que Lula já vai no segundo mandato, não terá sido dos momentos mais felizes de Zelensky, do ponto de vista político", concluiu Azeredo Lopes.

Para a investigadora Sónia Sénica, estas declarações denunciam o "clima de crispação crescente" entre os dois presidentes, que ainda não se encontraram pessoalmente, apesar da insistência de Kiev. 

"Esta tensão manifestada por Zelensky é compreensível, mas não positiva para a concertação de vários países que estão disponíveis para ajudar a pacificar este conflito", observou a comentadora da CNN Portugal, especialista em relações internacionais.

Sobre a comparação da invasão russa ao colonialismo, Sónia Sénica notou que este não foi mais do que "um argumento de abordagem à América Latina", que lhe é "caro devido à sua questão histórica".

"De todo o modo, parece-me que mina os vários passos que têm sido feitos para a pacificação desta guerra. Não é abonatório criar esta crispação, até porque o Brasil é um importante parceiros do BRICS e da Rússia", completou a investigadora, referindo-se à reunião deste fim de semana entre os parceiros do bloco económico, que decorreu em Jeddah, no Médio Oriente, e que terminou sem avanços nas negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia.

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