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Guerra Civil espanhola: direita insiste em esconder a verdade

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As feridas da Guerra Civil e do franquismo em Espanha nunca foram verdadeiramente fechadas e a direita mais conservadora, incluindo a Igreja Católica, insistem em esconder a verdade do que aconteceu, disse esta terça-feira o hispanista Ian Gibson.

Em entrevista à Lusa, Gibson avaliou assim as reacções dos sectores mais conservadores, incluindo da Justiça, à decisão do juiz Baltasar Garzón investigar os crimes da Guerra Civil e do franquismo, nomeadamente os desaparecimentos de mais de 100 mil espanhóis.

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«Dizem que se está a reabrir as feridas. Mas as feridas nunca foram fechadas. E não se podem fechar quando os teus seres queridos são lançados para valas comuns e 30 anos depois continuam assim, sem justiça, sem que os restos mortais sejam honrados», frisou Gibson.

Considerado um dos maiores especialistas em Federico Garcia Lorca e autor de numerosos livros sobre o poeta, Gibson faz parte do leque de hispanistas de origem britânica que se especializou na história moderna do país, nomeadamente no período da Guerra Civil e do franquismo.

De origem irlandesa e naturalizado espanhol, insiste nas criticas às alas mais conservadoras do país, incluindo a Igreja Católica, que homenagearam e até beatificaram heróis do lado franquista mas que continuam calados relativamente aos «que perderam a guerra».

«Este silêncio dos que consentem que isto permanece não pode prevalecer. A ala mais moderada da direita e da própria igreja não pode ficar calada. Não pode permitir que isto continue a acontecer», afirmou.

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Até porque, insiste Gibson, por maiores obstáculos que as alas conservadoras levantem, «a verdade é imparável e não se calará», com dezenas de historiadores em todo o país a trabalhar, hoje, para clarificar o que aconteceu na Guerra Civil e no franquismo.

Ninguém vai ser preso pelo que fez

Gibson refere que qualquer aspecto penal é «mero procedimento» e que ninguém vai ser preso pelo que fez, ou por quase todos já estarem mortos ou porque, os eventuais sobreviventes «terão hoje 80 e tal ou 90 anos».

«O mais importante é encontrar os mortos e honrá-los. Não permitir que continuem espalhados pelo país. Reconhecê-los e consolidar assim a verdadeira reconciliação», sublinhou Gibson.

«Vê-se que a direita continua a trabalhar para que a verdade não se saiba. Espero que desta vez não vençam», disse Gibson.

A decisão sobre se esse processo avançará depende agora, em grande parte, de um recurso apresentado pelo Ministério Público espanhol contra a decisão de Baltasar Garzón, por considerar que os crimes da Guerra Civil e do franquismo são delitos comuns que, como tal, já prescreveram.

Uma postura que contrasta com a de Garzón, que classifica o desaparecimento ou morte de mais de 100 mil pessoas como «crimes de desaparecimento forçado», pelo que se inserem na classificação de crimes contra a humanidade.

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