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«Se um tipo mau entrar no cockpit, tem forma de afastar os tipos bons»

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Antigo piloto da American Airlines, que comandou Boeing 777 idêntico ao avião da Malásia desaparecido há dois meses, em grande entrevista ao tvi24.pt

Mark Weiss, antigo piloto da American Airlines, dirige a equipa de aviação civil do Spectrum Group. Este especialista em aviação conhece a fundo a operação de investigações e buscas do voo MH370 da Malaysia Airlines, misteriosamente desaparecido a 8 de março passado.

Entrevista exclusiva ao tvi24.pt.

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Foquemo-nos no cenário de um ato isolado e tresloucado. Teria que ser de alguém que percebesse de pilotagem de aviões¿

Sim, um pouco pelo menos. Mas não teria que ser um especialista no tema para conseguir alterar a rota. Do mesmo modo que os pilotos têm forma de afastar os tipos maus do cockpit, se um tipo mau entrar no cockpit, tem forma de afastar os tipos bons de lá. Se alguém insuspeito tiver conseguido entrar, e isso infelizmente não é impossível de acontecer, esse alguém pode ter conseguido manter-se lá sem ter deixado marcas disso. E pode ter conseguido alterar a rota do avião, supostamente fê-la por duas vezes pelo menos. O resto, nós não sabemos. Como é que essa pessoa ou pessoas conseguiu neutralizar os pilotos? O que a terá levado a fazer isso? Ainda não sabemos responder a nada disso.

A tese de falta de preparação dos pilotos para algo inesperado não o convence, portanto.

Claro que não. Um dos pilotos tinha mais de 18 mil horas de voo em Boeing 777 e 30 anos de experiência. O outro era bem menos experiente, mas uma vez mais: não consigo imaginar uma hipótese em que um deles tenha ficado incapacitado e o outro não tenha conseguido manter a rota do avião. Repito: ela já estava programada e foi desviada duas vezes! Mais: a partir do momento em que o «transponder» foi desligado, os pilotos sabiam que estavam a violar o espaço de alguém, porque a rota foi desviada.

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Isso leva-o a acreditar que estava alguém que não os pilotos a comandar o avião quando o «transponder» foi desligado¿

Olhemos para os factos: em caso do avião estar em perigo iminente por razões técnicas, os pilotos teriam tido tempo de pedir ajuda, de solicitar um aeroporto alternativo. Nada disso foi feito. Esse momento de desligar o «transponder» é muito importante. O «transponder» permite-nos informações cruciais da altitude, velocidade¿ Para simplificar, explico só que essa comunicação é feita por satélite. O «transponder» é uma espécie de envelope de localização e informação. Há toda uma «bolha tecnológica» que supostamente nos protege, quando estamos a comandar um avião daqueles. É preciso nunca esquecer que voar é um fenómeno tridimensional. A partir do momento em que o avião deixou de estar nos radares e desviou da rota, ele chegou a estar em localizações muito movimentadas nesta altura do ano, como Singapura, por exemplo. Os pilotos sabiam disto perfeitamente.

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Que tipo de registos há do que se passou no cockpit?

Há tons que não nos indicam nada de concreto. Há barulhos da porta a bater, mas isso pode ter sido o piloto que foi à casa de banho. Há vozes que se sobrepõem. Não temos sinais esclarecedores.

Se considera possível uma violação do espaço do cockpit e consequente apropriação do comando do avião, não seria necessário reforçar claramente a segurança do cockpit?

Claro que sim. Defendo isso, tenho propostas para isso, vários colegas meus também terão algumas. A questão é complexa. Não há maior interessado na segurança dos cockpits do que os pilotos e as empresas de aviação. O problema é que o alargamento dessa segurança, que já é bastante grande, tem custos. Estamos a falar de coisas como sistemas GPS, livestreams em real time da zona do cockpit para os controlos em terra, gravações áudio 24 horas sobre o que se passa denttro do avião. E é preciso também pensar em sistemas de emergência pela voz, em aparelhos que venham à superfície quando um avião bate na água e submerge, isto para evitar a situação em que estamos, com buscas desesperadas de um avião que achamos que caiu, mas não sabemos onde nem como.

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