«Tudo o que começa mal acaba mal», foi desta forma que Sandra Pinhão descreveu à Lusa o final da viagem de autocarro que a deveria trazer a Portugal, depois de uma tentativa frustrada de vida em Andorra.
Sandra Pinhão e Maria Adelina Martins, duas das vítimas do acidente de sexta-feira à noite com um autocarro na cidade espanhola de Sentin de Fió, La Noguera, em que morreram três portugueses, tentaram a sua sorte em Andorra durante um ano, mas foi apenas uma aventura de vida que não chegou a vingar.
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«O atraso parecia uma premonição», disse Sandra Pinhão, natural de Ancã, referindo-se às quase duas horas de atraso com que o autocarro saiu de Andorra, devido ao trânsito provocado pelo fim-de-semana prolongado relacionado com o dia da Constituição espanhola. «Parecia que o nosso regresso a Portugal não ia acabar bem», acrescentou.
O autocarro de 50 lugares da companhia Cooperativa Interurbana Andorrana, que transportava 14 pessoas para Portugal, tinha dois motoristas que deveriam assegurar o trajecto de mais de 12 horas. Depois da paragem para jantar, na cidade de Pons, por volta das 22h45, o autocarro foi conduzido por um motorista que nunca tinha feito o trajecto Andorra-Portugal.
Segundo Sandra e Maria Adelina, o condutor, uma das vítimas mortais do acidente, logo que se pôs ao volante, colidiu com um sinal STOP.
«Eu comentei que desta maneira não chegaríamos vivas a casa», disse Maria Adelina, frisando que o motorista tinha sido advertido por um representante da empresa, também internado com fracturas em três costelas, para que reduzisse a velocidade, porque «não havia nenhuma pressa». O condutor entrou numa rotunda com «muita velocidade».
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«Ele travou e tentou desviar o volante de um lado para o outro, mas já não havia nada a fazer. Batemos de frente nos rails, capotámos e caímos pelo barranco», contou Maria Adelina, que foi cuspida pela janela.
«Fiquei muito atordoada, não sentia o corpo», disse, explicando que sofreu um traumatismo lombar e toráxico.
Nervosismo
Sandra e Adelina já tinham feito esta viagem outras vezes, mas nunca se tinham sentido tão inseguras como desta vez. «Ele estava muito nervoso. O autocarro era novo e era a primeira vez que fazia este trajecto», afirmou Maria Adelina.
No acidente, que vitimou mortalmente três pessoas, uma delas o condutor, e feriu outras 13, das quais sete continuam internadas, duas em estado crítico, intervieram 17 corporações de bombeiros, 17 ambulâncias e um helicóptero.
«As coisas não nos correram bem e também não acabaram bem», insistiu Sandra, que tinha marcada hoje uma entrevista de trabalho em Portugal para começar já na segunda-feira, numa loja de roupa.
Durante todo o dia de hoje, a Polícia Autonómica da Catalunha (Mossos da Esquadra) esteve no hospital a interrogar as vítimas. Segundo um porta-voz, estão «a trabalhar em todas as hipóteses, entre as quais o excesso de velocidade e a sonolência».
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