Os ciganos constituem «a minoria menos amada em Portugal», apesar de estarem no país «há mais de 500 anos», afirma António Pinto Nunes, presidente da Federação Calhim Portuguesa e da Associação Cristã de Apoio à Juventude Cigana.
A propósito do Dia Internacional do Cigano, que se assinala esta quinta-feira, o responsável considerou em declarações à agência Lusa que «os maiores problemas da comunidade continuam a ser os de relacionamento».
PUB
«Muitas vezes o cigano não é bem aceite. Por culpa da pessoa ou da comunidade, ele continua a ser excluído», declarou António Pinto Nunes, adiantando que «a comunidade cigana é fechada também como meio de auto-defesa».
«Nós sabemos que somos a minoria menos amada em Portugal. Temos amigos que são de cor, conversamos com pessoas dos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], e apercebemo-nos de que, para o povo português, somos os últimos na escala. Estamos aqui há mais de 500 anos mas 90 por cento das pessoas não nos considera portugueses», lamentou.
Segundo o presidente da Federação Calhim Portuguesa [«calhim» significa «cigana» em romani, língua falada pela etnia], «qualquer estrangeiro que venha para Portugal conta com uma receptividade totalmente diferente, mesmo que não seja melhor do que os ciganos, pois entre eles também existirão boas e más pessoas, como entre nós».
«Logo ao início, os pais ensinam os filhos a temer e a desprezar os ciganos. Somos uns intrujas, na sua concepção, o que é lamentável», afirmou António Pinto Nunes, exemplificando que «basta ver num dicionário os significados de cigano, que ainda não foram apagados: vagabundo, ladrão, ladino».
PUB
Para comprovar a discriminação, o responsável apontou o caso «do Rendimento Social de Inserção e de outros proventos que vêm do Governo».
« O povo diz que só os ciganos é que os auferem, mas a percentagem de ciganos a receber esses subsídios é mínima. Todavia, quando se fala em restringir ou acabar com esses apoios, os holofotes viram-se logo para os ciganos», assegurou.
De acordo com António Pinto Nunes, a ideia de que os ciganos são geralmente vendedores ambulantes dedicados à contrafacção também tem cada vez menos fundamento.
«Um cigano, se há-de estar na rua a vender uma porcaria falsificada, agora recorre a um mercado. E há pessoas a trabalhar noutros serviços. Só que muitas vezes não nos apercebemos porque eles não podem denunciar a sua pertença à etnia cigana. Se um patrão ou os colegas souberem, vão excluí-los desse tipo de trabalho», afirmou.
Também a presidir à Associação Cristã de Apoio à Juventude Cigana, Pinto Nunes considera que «o Evangelho tem redimido, transformado a maneira de ser e de viver, de auferir proventos, de muitos elementos da comunidade».
«Muitas vezes os ciganos andavam armados, mas 50 por cento deles deixaram de usar uma arma para usar uma Bíblia», garantiu.
PUB