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«Eu não lhe fiz mal, só a matei»

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Investigador: Joana foi morta para não revelar que tinha sido violada pelo tio

Joana Isabel Cipriano Guerreiro, ou simplesmente Joana. Tinha oito anos quando desapareceu. A mãe e o tio foram condenados pelo homicídio, mas o cadáver nunca apareceu. O caso, que emocionou o país, fez as manchetes dos jornais e especialistas de todas as áreas falaram sobre ele. Apenas uma versão tinha ficado por contar: a da PJ.

Dois anos depois do desaparecimento da menina de Figueira, um dos inspectores que trabalhou na investigação, Paulo Pereira Cristóvão, abre o livro e em 177 páginas conta pormenores sobre o caso que o emocionou, «porque os polícias também choram», e o levou a sair da PJ. «A estrela de Joana» chegou hoje às livrarias.

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«Os inteligentes de Lisboa»

Joana tinha desaparecido há um mês, Leonor e João Cipriano tinham confessado o homicídio, mas não diziam onde estava o corpo. As pressões eram muitas, sobretudo dos responsáveis de Lisboa e dos média. Sem resultados visíveis dos investigadores do Algarve, a PJ manda três reforços de Lisboa, entre eles está Paulo Pereira Cristóvão. Vistos com desconfiança pelos colegas de Faro e com pouca informação sobre o caso, esboçam uma estratégia que assenta nos interrogatórios e obriga a voltar atrás e começar a investigação do início. É sobre esta fase que fala o livro.

Os interrogatórios aos irmãos, Leonor e João, revelaram-se fulcrais. No livro, o ex-PJ faz o retrato dos arguidos: João era manipulador, controlado, mas quando bebia e era contrariado perdia o controlo e tornava-se violento. E no dia em que Joana desapareceu passou a tarde a beber.

João «tinha um apetite sexual contínuo» e a PJ acredita que mantinha relações sexuais com a irmã gémea, Anabela. João tinha também um claro ascendente sobre a irmã, Leonor. Esta era narcisista, fria. Foi obrigada a prostituir-se pela própria mãe e há historial de «relações sexuais entre irmãos e progenitores, violência familiar e possibilidade de consanguinidade». Leonor tinha tido várias relações. Além de Joana, tinha mais dois filhos a viver com ela e outra que morava com a avó paterna, que não queria saber da mãe. Terá tido ainda vários abortos.

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Violar era pior do que matar

Joana apanhou a mãe e o tio a ter relações sexuais, ameaçou contar ao padrasto e foi então que a mataram. Esta foi a versão contada por João Cipriano. Mas a PJ desconfiava que a história não terá sido bem assim.

Joana gostava muito da mãe, por isso, os investigadores não acreditavam que a denunciasse. Só alguma coisa mais grave explicaria que passasse por cima do amor que tinha a Leonor. Por isso, acreditavam que João tinha violado a sobrinha, perante a passividade da mãe. Quando ameaçou denuncia-los, foi agredida por ambos. Esta versão explicaria também por que não queriam que o corpo fosse encontrado. João preferia admitir que matou a sobrinha do que revelar que teve relações sexuais com ela. Se o corpo não fosse encontrado, nunca se saberia.

O tio confirma as agressões, diz que depois de lhe baterem a menina ficou «quietinha no chão». Pensaram que estava morta e era preciso livrarem-se do cadáver. Enquanto Leonor fingia procurar a filha com o companheiro (Leandro) e um amigo (Carlos), João resolveu cortar o corpo da sobrinha em pedaços, para ser mais fácil desfazer-se dele. Depois meteu-o numa arca congeladora. Leandro não acreditou que Joana fugisse. «Era muito certinha». Confrontou-os com as suas dúvidas até que lhe contaram a verdade. Não acreditou até ver o corpo. Ameaçaram-no para que ajudasse a esconder o cadáver. Acabou por aceder. As partes do cadáver da menina foram escondidas num carro de sucata e levadas para Espanha, onde o veículo foi queimado e compactado. Lá dentro estavam também os utensílios que serviram para esquartejar o cadáver.

Esta foi a versão que João Cipriano confessou. Primeiro apenas ao investigador e, no dia seguinte, na presença da sua advogada. Mas quando lhe perguntaram se abusou da sobrinha respondeu indignado: «Eu não lhe fiz mal, só a matei».

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