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Segredos de Natascha revelados

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Livro propõe abordagem alternativa aos oito anos de cativeiro da austríaca

É um livro revelador, investigação jornalística ou puro aproveitamento? A pergunta terá várias respostas, dependendo da abordagem do leitor. O preconceito servirá para menorizá-lo, a curiosidade torná-lo-á um sucesso de vendas. Assim é «Natascha Kampusch, a rapariga da cave», disponível para venda em Portugal desde esta quarta-feira, dois meses depois de ter sido revelado ao mundo na versão original.

Nas suas 270 páginas constam muitas emoções, juízos de valor, opiniões, dúvidas e, é certo, algumas revelações sobre a menina austríaca mantida em cativeiro durante oito anos. Uma história que apaixonou o mundo no último Verão e que promete permanecer no imaginário de muitos, apesar da protecção necessária da vítima, que tenta reconstruir uma vida feita de traumas e demasiadas restrições.

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A primeira edição tem oito mil exemplares e uma «expectativa enorme, pois é uma história que chocou o mundo inteiro e o livro conta-a com todos os pormenores», revelou ao PortugalDiário Marta Paixão, da Editora Difel. Em Inglaterra teve um «boom tremendo e ultrapassou todas as expectativas», pelo que se espera algo semelhante no nosso país. Projectado para ser polémico «A rapariga da cave» teve direito a ameaças judiciais e a edição em alemão foi terminantemente proibida, mas a 30 de Novembro surgiu nas prateleiras das livrarias em inglês.

Num registo notoriamente jornalístico, com tiques de romance policial, foi escrito por dois repórteres ingleses, que acompanharam a história de muito perto durante anos. Allan Hall e Michael Leidig recolheram centenas de testemunhos e aproveitaram para libertá-los no momento certo, coligindo-os num só documento em que incluíram, também, as declarações de Natascha já depois de ter conseguido fugir do cativeiro.

Sofrimento e empatia

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Trata-se de um livro que apela claramente à emoção e, por isso mesmo, não se coíbe de opinar. Chega a roçar a falta de credibilidade, com acusações mal fundamentadas e gratuitas. Serve como exemplo a hipótese levantada de Natascha ter pertencido ao submundo sadomasoquista de Viena durante parte do tempo em que esteve raptada. Não são apresentados dados concretos para demonstrar tese tão maquiavélica.

Muito se falou sobre a menina raptada aos dez anos, que conseguiu fugir ao cativeiro quando já tinha alcançado a maioridade. «A rapariga da cave» recorda tudo o que já foi escrito e acrescenta alguns detalhes, com a mais valia de apresentar muitos depoimentos de pessoas ligadas a Natascha ou ao raptor Wolfgang Priklopil. Não é preciso ter acompanhado o caso de perto para saber que Priklopil suicidou-se pouco depois de Natascha ter conseguido fugir; ou que os dois mantinham uma relação de proximidade difícil de entender.

O que o livro tenta apresentar, e raramente consegue, é uma explicação «real», que tenta ir para além da versão fornecida pela própria menina austríaca nas poucas entrevistas que deu. Fica a saber-se que «Wolfi», o «monstro», era «um homem banal», tratado pelos vizinhos como o dono do «Fort Knox de Heinestrasse», devido às medidas de segurança que implantou na sua casa. Capaz de imaginar um cubículo de cinco metros quadrados (uma cave transformada em «masmorra») onde escondeu Natascha durante 3096 dias sem qualquer suspeita.

Allan Hall e Michael Leidig só não conseguiram falar directamente com Natascha, ou com elementos da sua família, impedidos que foram pelos advogados. Não se coíbem, por isso, de reproduzir as entrevistas onde a menina reconhece ter tido uma certa empatia com o raptor, numa espécie de «vida normal». No final de tudo, quando Priklopil jazia na morgue, Natascha terá chorado e acendido uma vela, numa das muitas contradições existentes neste livro.

A história é real, realmente apaixonante e até poderá terminar em Hollywood (com Scarlett Joahnsson?), mas o prazer da leitura é reduzido. Serve como documento, tese ou tentativa de explicação, em que a mais valia surge no prefácio escrito pelo psicólogo Eduardo Sá.

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