Um dos funcionários da CGD de Fornos de Algodres, alegadamente envolvido num desvio de dinheiro do empresário Paulo Almeida, detido nos EUA por tentativa de assalto a um banco em Miami, foi alvo de investigação judicial.
A investigação é confirmada em documentos a que a agência Lusa teve acesso.
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Aquele funcionário da Caixa Geral de Depósitos (CGD) é um dos vários presumíveis envolvidos no desvio de uma verba significativa referente a uma hipoteca escriturada por Paulo Almeida, há cerca de um ano, com a CGD, sobre um matadouro de que era proprietário em Fornos de Algodres.
Português assalta banco em Miami
Paulo Almeida foi detido a 27 de Março, em Miami, durante uma insólita tentativa de assalto à dependência local do Commercial Bank of Florida, onde se apresentou com a cara destapada, dois telemóveis e uma pasta preta.
O empresário, que não fala inglês, foi detido depois de um terceiro indivíduo, por telefone, ter informado o banco de que Almeida ali se encontrava para assaltar o banco.
No entanto, fontes próximas de Paulo Almeida referem que este foi «enganado» porque a sua intenção era levantar dinheiro, cerca de 15 mil euros, referente a um empréstimo que presumia ter sido antecipadamente negociado por terceiros.
O «esquema»
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A versão contada por próximos de Paulo Almeida é que este eventual «esquema» tinha como objectivo afastar o empresário, ligado ao sector das carnes, de um processo que este tem a decorrer em Portugal contra a CGD por causa do dinheiro que não recebeu no âmbito da hipoteca que assinou com a instituição bancária sobre o matadouro de que era proprietário, impedindo-o de falar.
Paulo Almeida accionou a CGD, tendo como advogado João Nabais, por ter alegadamente sido enganado por funcionários do banco que terão retido em proveito próprio o dinheiro ou parte deste, referente à hipoteca.
No entanto, fontes judiciais explicaram à Lusa que a detenção nos EUA não impede Almeida de testemunhar, visto que isso pode ser feito através de vídeo-conferência ou ainda via Interpol, como já sucedeu noutras situações similares.
A investigação da PJ
Num documento a que a Lusa teve acesso, o funcionário da CGD, à época a trabalhar em Fornos de Algodres, é alvo de um pedido da PJ, datado de 19 de Abril de 2006, ao Banco de Portugal sobre a «existência de contas bancárias de que seja titular individual ou co-titular, ou como procurador ou representante».
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A PJ pede ainda ao Banco de Portugal que lhe seja remetida «toda a documentação bancária relativa àquelas contas, nomeadamente identificação dos titulares» incluindo todas as formas de acesso a estas.
No mesmo texto, o investigador da PJ, Nuno Maurício, pede ainda que o Banco de Portugal informe sobre os extractos de contas deste funcionário da CGD «desde 01 de Janeiro de 2002» até à data (Abril de 2006) que consta do documento.
A PJ pretendeu ainda averiguar as «aplicações financeiras com ligação à conta, bem como operações cambiais e transferências nacionais e internacionais efectuadas».
Entretanto, num outro documento a que a Lusa teve acesso, o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Coimbra, datado de 31 de Março de 2006, refere que «diligências já realizadas, permitem, para já, configurar a prática, por parte de... (adiantando o nome do funcionário da CGD) de um crime de corrupção passiva previsto(s) e punido(s) pelo(s) artº 372 nº1 do Código Penal».
O DIAP adianta que, «neste contexto, tem, pois, pleno cabimento o sugerido pela Polícia Judiciária de Coimbra(...), uma vez que na investigação do crime de corrupção (e noutros...) assume particular importância, para a prova e para a descoberta da verdade, o acesso às contas bancárias, tendo em vista apurar os diversos movimentos financeiros realizados».
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