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«Ressentimentos afastam Portugal do Brasil»

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João Ubaldo Ribeiro atribui a proibição de venda do livro «A Casa dos Budas Ditosos» ao facto de ser brasileiro

Os brasileiros estão mal informados sobre Portugal e os portugueses não gostam dos brasileiros, diz o escritor João Ubaldo Ribeiro.

O autor do recentíssimo «O Albatroz Azul» considera que o intercâmbio entre Portugal e o Brasil é «uma coisa ridícula em relação ao que podia ser», e que isso se deve à ignorância brasileira e ao desinteresse português.

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Numa entrevista à agência Lusa, o escritor, que viveu em Lisboa e tem grandes amigos portugueses, diz que «existe muita ignorância no Brasil» a respeito de Portugal. «É um país muito mal informado, não sabe coisa nenhuma de Portugal».

«O Brasil - defende - é um país de ignorantes, com um sistema educacional praticamente falido, com uma ilha de excelência aqui ou ali, mas calamitoso.»

Português não se interessam pelo Brasil

Do lado de cá do Atlântico, a questão é outra: «O intercâmbio com o Brasil parece não interessar absolutamente a Portugal, pelo contrário, o Brasil irrita a maioria dos portugueses, noto isso como brasileiro. Na alfândega, na imigração, já fui maltratado.»

O escritor atribui mesmo a proibição de venda do livro «A Casa dos Budas Ditosos» em duas grandes superfícies comerciais portuguesas ao facto de ser de um brasileiro. «Foi uma coisa ridícula. Nunca leram Henry Miller, nunca leram nem os poemas de Bocage? Foi como se um Portugal virginal fosse agredido na sua pureza cândida por um livro de um brasileiro nefando, a minar os alicerces do cristianismo português.»

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A mesma língua, línguas diferentes

O escritor defende que nos países lusófonos se falam línguas diferentes mas que existe um «alto português», uma língua franca «imbatível e poderosa» que o deixa arrepiado de emoção quando fala sobre ela.

«Tudo depende do registo em que se fala», diz o escritor. «No registo erudito, é a mesma língua, uma língua plena e eu tenho um fraco por ela, por se tratar da minha língua. Mas num registo coloquial e num registo regional não é a mesma língua.»

A expressão «alto português» foi Ubaldo buscá-la ao chamado «alto alemão». É a língua comum que não cede a regionalismos, falada pelas elites, nos meios de comunicação social, nas situações de encontro das diferentes nacionalidades.

E explica: «Mesmo um peixeiro analfabeto de Itaparica, se se apercebesse de que você não o entende, falaria mais devagar, usaria palavras que ele supunha adequadas, falaria o alto português dele. Essa é a língua franca que nós temos, baseada na nossa língua mãe que está dentro das nossas entranhas.»

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Para exemplificar as diferenças, o escritor de «O Bom Povo Brasileiro» vai buscar a questão das sílabas que em Portugal não são pronunciadas. «Numa palavra de quatro sílabas, só pronunciam duas no máximo, ou uma e meia. Por exemplo, televisão não é te-le-vi-são. É tlvsão.»

«Nós não falamos no dia a dia a mesma língua, a realidade desmente isso a todo o instante», sublinha.

Escritor diz que é mais fácil perceber os angolanos que portugueses

«Às vezes, eu tenho dificuldade em entender os portugueses, mas todo o mundo com que eu falo fala alto português, mesmo que não se dê conta. Na hora que você se depara com um interlocutor com quem sabe que não pode conversar do jeito que fala em casa, automaticamente transfere para o alto português», refere.

E se estiver a conversar com angolanos, por exemplo, que abrem mais as vogais? «Abrem sim. Mas para os brasileiros, de modo geral, o acento angolano parece-se muito com o português de Portugal.»

«Já vi portugueses ofendidos quando se diz que têm sotaque português. Dizem - "sotaque não temos nós, têm vocês!" Esse negócio emocional em relação ao Brasil fica cada vez mais intenso, porque é impossível que dez milhões de portugueses imponham o padrão da língua a praticamente 200 milhões, por mais que seja o ideal», diz o escritor.

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