Matosinhos: barracas demolidas

Poucos minutos bastaram para «acabar» com 24 anos da vida da comunidade que residia em barracas e contentores em Santa Cruz de Pau, Matosinhos, demolidos esta terça-feira pela autarquia, escreve a Lusa.

As sete famílias desta comunidade estão, desde quinta-feira, a viver em fogos do Bairro da Biquinha, Matosinhos, depois de longos anos a ocupar aquele espaço de terra, junto ao Estádio do Mar.

Esta manhã, a autarquia fez avançar as máquinas para aquele terreno, demolindo e removendo as barracas e contentores que acolheram esta comunidade.

Zé Maria, chefe daquela comunidade, afirmou que a família já tinha pedido casa ao anterior autarca, Narciso Miranda, mas que foi recusado.

«Quando o presidente (Guilherme Pinto) veio cá em campanha prometeu-nos casa se ganhasse. Antes destas férias de Verão, fez uma reunião connosco dizendo que tinha casas para nos dar», disse.

Zé Maria adiantou que, em todo o processo, a Câmara, já liderada pelo socialista Guilherme Pinto, ainda tentou «mandar alguém para arranjar os contentores», mas essa ideia foi recusada pela comunidade.

Na Biquinha, as sete famílias têm agora encargos financeiros, pagando rendas que variam entre os 30 e os 120 euros, mas têm outras condições de vida, admitiu Zé Maria, já reformado e cuja mulher vive do Rendimento Social de Inserção.

A tristeza em «deitar para trás» tantos anos de vida naquele local era hoje visível na expressão de Zé Maria e de alguns dos seus filhos, que não conseguiram esconder algumas lágrimas, assim que as máquinas arrasaram as barracas.

«Não olho mais, já está arrumado», afirmou Zé Maria, virando costas à escavadora e limpando a cara, depois de ter constatado que um «colchão novo» ficou esquecido dentro de uma barraca e estava já desfeito.

O seu filho, também José, que nasceu naquela terra, ali cresceu e já tem descendentes, olhava para o entulho e só pedia que ali cresça «uma coisa bonita».

A ideia do presidente da Câmara de Matosinhos é construir uma nova escola EB1 naquele terreno, no âmbito de um «grande projecto de reordenamento da zona».

Mas Guilherme Pinto quis hoje realçar o facto de ter resolvido o problema destas sete famílias.

«Depois deste núcleo, fica apenas um outro para resolver no concelho, que está junto ao Bairro dos Pescadores», referiu o autarca.

Os contentores hoje demolidos foram dados pela autarquia há 24 anos à comunidade e a luz e a água que gastaram até aqui «eram da Câmara», explicou Zé Maria.

Alzira Silva e Paula Pacheco, vizinhas desta comunidade, também estiveram a assistir à demolição e confidenciaram «ter pena» de perder os amigos.

Zé Maria acabou por dizer que não pretende abandonar aquela zona. «Eu tenho que ficar aqui a guardar o sítio», disse, mostrando uma horta que ali ao lado arranjou e que pretende manter «para sempre».