Confrontos voltam às ruas de Myanmar - TVI

Confrontos voltam às ruas de Myanmar

  • Portugal Diário
  • 28 set 2007, 09:02

Militares disparam e investem com bastões contra os manifestantes

Milhares de pessoas concentradas na capital de Myanmar começaram esta manhã a provocar os militares, numa das principais ruas de Rangum. Mas esta atitude não durou muito tempo. A polícia começou a disparar e a investir com bastões para dispersar milhares de manifestantes, que violaram uma proibição de concentração em Rangum, indicaram testemunhas.

Os incidentes ocorreram perto do pagode de Sule, no centro da cidade. Antes da intervenção policial, as forças de segurança apelaram por megafones aos manifestantes para se dispersarem.

Gritando slogans e batendo as mãos, os estudantes, que estavam organizados em três grupos, tentaram avançar para o pagode de Sule, mas foram impedidos pelas forças de segurança, que patrulham as ruas de Rangum em grande número desde a madrugada, acrescentaram as mesmas testemunhas.

Os manifestantes não opuseram resistência aos soldados e polícias anti-motim e dispersaram à primeira investida dos polícias, que carregaram sobre os manifestantes a golpes de matraca.

Já em Mandalay, a segunda maior cidade da Birmânia, uma unidade militar recusou hoje ordens governamentais para disparar sobre monges desarmados, disseram à Agência Lusa fontes no interior do país.

Estas informações foram confirmadas à Agência Lusa em Pequim por um empresário chinês com familiares na cidade - grande centro de emigração da China - e pelo chefe de redacção da publicação independente The Irrawady, Kiaw Zwa Moe, cuja redacção de jornalistas birmaneses cobre os acontecimentos hora a hora a partir do Norte da Tailândia.

As manifestações dos monges em Mandalay surgem como resposta à entrada de elementos do Exército em mosteiros da cidade, que espancaram os religiosos, a pontapé e a murro, que rezavam sentados em frente à estátua de Buda.

Kiaw Zwa Moe prevê que o governo vai hoje tentar esmagar ainda com mais força as manifestações pró-democracia, até porque estão já em marcha novos protestos em Rangum, a maior cidade do país.

Segundo o jornalista, uma nova manifestação começou já a formar-se em frente ao Traders Hotel, o mais luxuoso de Rangum, na principal artéria comercial da cidade que termina no Pagode Sule, onde têm decorrido as manifestações dos últimos dias.

À frente da manifestação pacífica estão líderes da Liga Nacional para a Democracia, o partido de Aung San Suu Kyi, que venceu as eleições democráticas de 1990, cujos resultados a Junta Militar anulou.

«O plano dos manifestantes é negociar com os militares e pedir-lhes que não disparem contra os manifestantes pacíficos", disse Kiaw Zwa Moe.

Independentemente da resposta, dizia o jornalista, «a tensão está a tornar-se cada vez maior». O embaixador australiano considera também que a repressão é «uma resposta completamente desapropriada às manifestações pacíficas». Tendo em conta que se espera que as manifestações prossigam hoje, o embaixador australiano considerou a situação «muito tensa».

Este responsável considera ainda que o balanço de mortos nas recentes manifestações no país é bastante mais elevado do que o número oficialmente avançado pelo regime birmanês.

Bob Davis disse à rádio ABC que a junta militar no poder forneceu um balanço de 10 mortos, mas que «testemunhas disseram ter visto um número muito mais elevado de corpos no local das manifestações, quinta-feira, no centro de Rangum». O número de pessoas mortas é «superior em várias dezenas ao número dado pelas autoridades», adiantou.

Também esta sexta-feira, após dois dias de violência nas ruas de Rangum, a principal ligação via Internet deixou de funcionar. Um responsável birmanês de telecomunicações atribui o problema a «um cabo submarino danificado».

Por sua vez, fonte ocidental em Rangum referiu que desde as 11:00 locais (05:30 em Lisboa), o acesso à Internet e ao correio electrónico foi bloqueado e que o corte foi ordenado pela Junta Militar que tenta desta forma impedir a difusão, para o exterior do país, de informação, fotografias e vídeos sobre a repressão.
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