Myanmar: protestos «não vão mudar regime» - TVI

Myanmar: protestos «não vão mudar regime»

  • Portugal Diário
  • - António Sampaio, Agência Lusa
  • 28 set 2007, 12:50

É melhor aproveitar a possibilidade de dialogar, diz relator especial da ONU

A comunidade internacional deve apostar no diálogo com as autoridades birmanesas, aproveitando esta «janela de oportunidade», dado ser improvável que os protestos mudem o regime, disse esta sexta-feira à Lusa o relator espacial da ONU para Myanmar.

Entrevistado telefonicamente pela Agência Lusa em Nova Iorque, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro pediu «cuidado» na análise que se faz do exterior sobre a situação em Myanmar, afirmando que «este não é o momento de ameaças».

«Esta situação começou de um incidente específico, que se foi alargando, envolvendo primeiro monges, e depois logo estudantes, activistas, membros de partidos políticos», recordou. «Não chamaria a isto um levantamento da população e não vejo nenhuma possibilidade destas manifestações levarem a uma mudança de regime», disse o relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Myanmar.

Isso não invalida, no entanto, que os protestos criem «uma janela de oportunidade» que se for bem aproveitada «pode permitir alguma evolução positiva no sentido da abertura do regime», mas se for mal aproveitada «pode resultar numa repressão pesada».

O facto, disse, do representante especial do secretário-geral da ONU chegar a Rangum já no sábado, explicou, é «um bom sinal» de «alguma pequena abertura ao diálogo do governo».

Cabe no entanto à comunidade internacional aproveitar a situação actual para corrigir os erros do passado na sua política relativamente a Myanmar, onde o regime sobrevive, tanto pelo isolamento e posição geopolítica, como pela «dificuldade da comunidade ocidental em lidar» com o tema, insistiu.

«As políticas foram pouco coordenadas em relação a Myanmar (como é hoje denominada a Birmânia pelo regime militar). Ainda que a comunidade internacional consiga dialogar e ter acções comuns em relação a outros regimes totalitários, em relação a este não consegue», sublinhou.

«Está na hora de se rever as abordagens e se caminhar para uma situação de maior diálogo em que, por exemplo, a China pode ser um interlocutor», frisou o diplomata brasileiro.

Paulo Sérgio Pinheiro defendeu os esforços internacionais devem passar por acções conjuntas e «parcerias efectivas» entre o grupo ocidental e países da ASEAN e por um diálogo «continuado, construtivo e discreto com a China».

«Acho que a crise oferece uma janela de oportunidade, mas é também um momento que exige grande sobriedade», explicou, notando o «diálogo muito positivo no Conselho de Direitos Humanos da ONU».

«O momento não é de fazer ameaças. Cada país pode decidir a abordagem que quiser mas na minha perspectiva não vejo outra alternativa ao diálogo para desmontar o perigo da crise», afirmou.

Perante a forte mediatização dos recentes protestos, insiste que a comunidade internacional deve optar por uma «posição firme, mas de diálogo». Avenidas «em que se possa efectivamente ouvir o governo, contribuir para o diálogo com os manifestantes e assim evitar uma repressão brutal com consequências muito negativas para o país e a região».
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