Francisco Iglesias sonhava ser famoso e, para realizar esse desejo, colecionou fotos onde aparecia ao lado de figuras como o ex-primeiro-ministro José María Aznar, a autarca de Madrid, Ana Botella, a antiga presidente da Comunidade de Madrid, Esperanza Aguirre, ou até mesmo, como já foi dito, a cumprimentar Felipe VI no momento da proclamação como rei de Espanha, à qual assistiu. Assistiu também a jogos na bancada VIP no estádio do Real Madrid ou no do rival Atlético, ao lado de Radamel Falcao, quando este ainda jogava no clube espanhol.
A imprensa espanhola não consegue precisar ao certo de que forma Francisco Iglesias começou a insinuar-se junto de políticos do Partido Popular e de diretores de sociedades financeiras. Mas o jornal «Las Provincias» classifica-o como um «mestre a tirar fotografias com gente importante».
Frankie, como o tratam os amigos, apresentava-se a quem ia conhecendo como alguém que ocupava um alto cargo numa qualquer instituição, fosse como assessor do Gabinete Económico do Palácio da Moncloa (a sede da Presidência do Governo de Espanha e a residência oficial do primeiro-ministro), dirigente do Partido Popular, ou representante das direções da Guarda Civil ou agente dos serviços secretos. Fê-lo sempre sem apresentar qualquer documentação.
Fontes do Ayuntamiento de Madrid, citadas pelo «El País», revelam que a desconfiança começou a surgir quando Francisco Iglesias começou a pedir dinheiro a terceiros para mediar a concessão de licenças. Um caso de burla concreta tem que ver com o pagamento exigido a um homem a quem pediu 25 mil euros, quando se fazia passar por assessor da vice-presidente do governo, para mediar a venda de um imóvel em Toledo.
Nas buscas domiciliárias, a polícia encontrou relatórios falsificados do Centro Nacional de Inteligência (do qual também disse ser agente), autorizações para veículos de acesso à residência oficial do primeiro-ministro, entre outros artigos falsificados.
Filho de uma família da classe média e neto de militares, a estudar no Colégio Universitário de Estudos Financeiros de Madrid, Francisco Iglesias começou a frequentar aos 15 anos a delegação do PP em Chamartin. Com o pretexto de «dar uma mão» passou a ser uma figura omnipresente no Partido Popular, relata o «El País». Fazia-se transportar em carros de alta cilindrada, às vezes até com motorista, «aos quais acrescentava um farol de luz semelhante aos usados pelas forças de segurança».
A 17 de Outubro, em audiência perante a juíza, o jovem foi interrogado durante sete horas. A magistrada responsável pelo processo que agora lhe foi instaurado não escondeu a estupefação quando foram apresentados os factos. Mercedes Barrios afirmou «não compreender como um jovem de 20 anos, apenas com o seu palavreado e aparentemente com a sua própria identidade pôde aceder a conferências, lugares e atos sem alertar ninguém desde o início desta sua conduta», conforme consta do auto divulgado pelo «El Confidencial».
De acordo com o «El Mundo», o médico forense descreveu Francisco Iglesias como tendo uma personalidade de «idealização florescente delirante de tipo megalómano».
Na audiência, o jovem reafirmou pertencer ao Partido Popular, embora o partido já tenha vindo dizer o contrário: o jovem nunca fez parte do PP, nem foi militante das Novas Gerações.
Francisco Nicolás Gómez-Iglesias aguarda julgamento em liberdade.