O cão que se tornou «amigo» do lobo - TVI

O cão que se tornou «amigo» do lobo

  • Redação
  • Helena Fidalgo para Lusa
  • 12 ago 2008, 12:46
Cão de gado transmontano

Cão de gado transmontano conseguiu reduzir ataques a rebanhos e fez diminuir a antipatia pela espécie

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O cão de gado transmontano revelou-se um dos melhores amigos do lobo no Parque Natural de Montesinho (PNM) conseguindo reduzir os ataques a rebanhos que constituem a principal causa da antipatia pela espécie.

Desde que o cão começou a ser distribuído pelos pastores, os montantes das indemnizações pagas pelos prejuízos causados pelo lobo no gado diminuíram para um terço.

Humberto Figueiredo tem os melhores exemplares da raça e prova disso são os três mil euros que já recebeu pela venda de uma cadela e os prémios que arrecada nos concursos.

«O ano passado trouxe 13 prémios. Foi quase tudo», contou à Lusa, rodeado por quatro dos seus cães, que guardam o rebanho de 200 ovelhas num monte do Zeive (Bragança).

«O lobo chegar-se ao gado, nunca, não tem hipótese», garante Humberto, um pastor de 36 anos, filho de pastores e de uma família que toda a vida teve cães desta raça.

É raro pagarem-lhe uma indemnização, prevista na lei desde que o lobo foi considerado uma espécie protegida, há 20 anos.

«Quando me pagam é alguma ovelha que se fica [para trás do rebanho] a parir», referiu. Garante que deixa «as ovelhas na serra dois ou três meses com cancelas e com comida para os cães e nunca faltou nada». Lobos, viu apenas um quando era pequeno.

«Andava com um rebanho, sem cães, o lobo chegou lá e limpou-me um cordeiro e foi embora», contou.

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Durante o Verão, fica no monte até às dez da noite e depois deixa o rebanho à Farrusca, Camões, Dama, Etô, Eta, Herói, Gualdina e Gavião.

A Farrusca é a única de raça pequena, mas a que verdadeiramente manda no rebanho, já que com o seu estatuto de «cadela viradeira» é quem orienta as ovelhas.

Uma cadela minúscula entre os puros «cão de gado transmontano», alguns com quase um metro de altura. «São grandes e quem os vir parecem lentos, mas são activos e valentes», diz o pastor.

Ao primeiro sinal de intruso desatam a correr e só param à voz do dono, mas da mesma forma que são capazes de trucidar o adversário, desfazem-se em lambidelas para com as crianças.

«Gostam muito do dono e das crianças», assegura Humberto, que bem gostava que houvesse concursos da raça «todos os fins-de-semana».

Os animais ganham para eles, embora dêem muita despesa: comem muito-ração e aparas de carne e precisam de vacinas e desparatizações, entre outros cuidados.

Além dos prémios, Humberto consegue os maiores valores na venda de exemplares, entre mil e três mil euros pelos maiores e o mínimo de 250 euros pelos cachorros.

Menos indemnizações

O parque iniciou, em 1994, este programa de distribuição do cão que é, entre todas as raças portuguesas, a que atinge maior tamanho, a mais rústica e com menos interferência humana na sua selecção, segundo a associação.

Os resultados começaram a chegar alguns anos depois, com a redução dos valores pagos em indemnizações, que diminuíram de 70 mil euros, em 2002, para pouco mais de 20 mil euros, em 2007.

O técnico garante que «o cão tem sido importante para a conservação do lobo no PNM, porque ao evitar os ataques, diminuiu a antipatia das pessoas».
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