Lars von Trier explica-se: «Não sou o Mel Gibson» - TVI

Lars von Trier explica-se: «Não sou o Mel Gibson»

Realizador propôs tirar «Melancholia» de competição, mas organização de Cannes não aceitou

Relacionados
Lars von Trier disse o que disse na conferência de imprensa de «Melancholia» em Cannes: que é um nazi e que tinha alguma simpatia por Hitler. A polémica rebentou. A direcção do festival reagiu e exigiu explicações. O realizador dinamarquês desculpou-se e lamentou o que tinha dito, mas não sem contextualizar as palavras que disse - ou seja, que estava no gozo com o que estava a ser-lhe perguntado, mas que as piadas foram infelizes. Não chegou para apaziguar os ânimos, pois já esta quinta-feira os directores do festival baniram Von Trier declarando-o « persona non grata» com «efeito imediato» [veja tudo nos artigos relacionados].

Ora, o caso ainda não acabou. Lars von Trier já tinha uma mesa redonda marcada para o final da manhã e a conversa com alguns jornalistas manteve-se depois de toda esta agitação. Aconteceu no hotel nos arredores de Cannes onde o realizador nove vezes concorrente à Palma de Ouro (ganhou com «Dancer in the Dark», em 2000) costuma ficar hospedado. O dinamarquês voltou a dar explicações sobre o que disse e comentou já também a sua exclusão. A conversa fluiu entre momentos sérios de intenção inequívoca e outras respostas com vários sentidos e destinatários.

O arranque foi mais uma provocação. «Se algum de vós quiser bater-me, faça favor. Devo avisar que eu talvez goste», atirou o dinamarquês no relato do correspondente da edição de Chicago da revista «Time Out», presente na conversa.

O tom manteve-se quanto à decisão do festival em bani-lo: «Tenho muito orgulho em ser persona non grata. Nunca tinha sido isso na vida e assenta-me que nem uma luva.» E deu novo exemplo do seu reportório verbal: «Eu sou conhecido pelas provocações, mas eu gosto das provocações quando têm uma finalidade. E isto não tem qualquer finalidade. Porque eu não sou o Mel Gibson. Definitivamente, não sou o Mel Gibson.»

Mel Gibson também esteve em Cannes [ver outros artigos relacionados] para a apresentação do filme «The Beaver». Mas o actor e realizador australiano, acusado de declarações anti-semitas e envolvido num escândalo de acusação de agressões pela ex-namorada, não foi à conferência de imprensa oficial. E apenas apareceu publicamente nas sessões de fotos oficias de Cannes.

Lars von Trier, pelo seu lado tem agora a convicção de que não poderá sequer aproximar-se da zona onde decorre o festival. E, assim, apresentou uma solução: «Devo ser carregado numa maleta com uma coisa na boca e exibido à imprensa.»

Num registo descrito como mais sério, o realizador de «Ondas de Paixão» (Grande Prémio do Júri no festival de 1996) revelou que se ofereceu para retirar «Melancholia» da selecção para a Palma de Ouro, mas que os organizadores declinaram a proposta; o filme continua em concurso, mas ele é que não poderá ir à cerimónia se ganhar.

Em altura de explicações sérias, Lars von Trier insistiu várias vezes que os seus comentários «estúpidos» tinham sido piadas de quem se tinha irritado e que quando disse «nazi» estava a usar calão dinamarquês «estúpido» em que nazi quer significar alemão.

«O Holocausto é o pior crime na humanidade de que me posso lembrar», disse recordando várias visitas que fez a campos de concentração. E sem deixar de atirar mais uma referência comentou a reacção ao que disse: «Acho que é um assunto especialmente delicado por aqui, porque os franceses têm uma história de extrema crueldade para com os judeus.»

Continue a ler esta notícia

Relacionados