Quem for esta quarta-feira ao IndieLisboa para ver «Jean Gentil» não se espante se acabar o filme de Laura Amelia Guzmán e Israel Cárdenas dividido entre a angústia e o deslumbramento visual. É nesta duplicidade que também acontece a história de Jean Remy na República Dominicana.
«Jean Remy» não tem vida. Ou vai deixando de ter a pouca que tem. É o próprio quem o diz embrenhando-se na paisagem à medida que este desprendimento se vai consumando. A única relação que a vida desta criatura em estado bruto e puro alguma vez contemplou foi com Deus e vai sendo cada vez mais forte quanto mais a existência terrena se afasta.
O peso desta existência - que chega a pedir para acabarem com ela, pois ninguém dará pela sua falta - é-nos colocado por Guzmán e Cárdenas não só, substancialmente, num cenário natural de uma beleza imensa, mas mostrado também com um trabalho de câmara notável.
Os planos tão perfeitos sucedem-se uns aos outros como se esta dupla tivesse tido todo o tempo do mundo - como vários anos - para filmar (exactamente) como queria. O tempo de «Jean Remy» é que, pelo contrário, vai deixando de ter sentido. Em direcção ao desparecimento. E entre estas duas realidades vai-se bebendo a dor num copo de cristal com rebordo de ouro.
«Jean Gentil», Laura Amelia Guzmán e Israel Cárdenas
Às 19h15 no São Jorge
Repete sexta-feira, dia 13, às 00h00 no São Jorge
IndieLisboa: beba-se a dor num copo precioso
- Redação
- Pedro Calhau
- 11 mai 2011, 15:30
«Jean Gentil» joga-nos entre a angústia e o encanto visual
Continue a ler esta notícia