«Os filmes não podem ser todos feitos em três semanas» - TVI

«Os filmes não podem ser todos feitos em três semanas»

«Um Fim do Mundo»

Pedro Pinho é o realizador de «Um Fim do Mundo», longa-metragem em competição no festival IndieLisboa

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A construção estética de um filme passa também pelo modelo de produção escolhido, afirmou à agência Lusa o realizador Pedro Pinho, que tem em competição no festival IndieLisboa a longa-metragem «Um Fim do Mundo».

O filme, primeira longa-metragem de ficção do realizador, será exibido no domingo, alguns meses depois de ter integrado o festival de cinema de Berlim.

Rodado na Bela Vista, em Setúbal, com atores não profissionais, moradores daquele bairro, o filme acompanha um dia na vida de um grupo de adolescentes no começo das férias de verão.

Pedro Pinho, 35 anos, premiado no DocLisboa com o filme «Bab Sebta» (2008), co-realizado com Frederico Lobo, afirma que «Um Fim do Mundo» tem «uma disposição ficcional», mas tem latente um traço documental, porque não pediu aos atores para «não serem outra coisa do que aquilo que realmente são».

Para fazer «Um Fim do Mundo», Pedro Pinho viveu dois a três meses em Setúbal, para estar mais próximo do bairro, para «mergulhar nas personagens» e atribuir-lhes uma aproximação à realidade.

Todo este processo leva tempo e Pedro Pinho acredita que só é possível porque há uma «autonomia de produção, em que o modelo é uma parte fundamental e determinante na construção estética do filme».

«Os filmes não podem ser todos feitos em três semanas. Não acredito que todos os filmes tenham as mesmas necessidades, que levem o mesmo tempo», expressou.

É esse princípio de autonomia que rege a Terratreme Filmes, - coprodutora de «Um Fim do Mundo» - criada há cinco anos e da qual Pedro Pinho é um dos fundadores.

«Fazemos filmes pela urgência de filmar e só depois pensamos no dinheiro», sublinhou, para explicar como se rege esta cooperativa de produção.

Há uma «economia de guerra e de escassez» que vai permitindo a todos continuar a fazer filmes, mesmo em tempos adversos.



Além de «Um Fim do Mundo», a produtora Terratreme tem outro filme na competição do IndieLisboa: «Lacrau», de João Vladimiro, que será exibido no sábado.

«Lacrau» é um objeto visual, contemplativo, sem diálogos, rodado sobretudo nas paisagens agrestes da Covas do Monte, uma pequena aldeia da Serra de São Macário (São Pedro do Sul, Viseu).

É um mergulho - tal como sugere o plano inicial de uma criança a dar um salto - na imponência da natureza e do campo, face à cidade e à civilização.

O filme, que apresenta longos planos de campos cultivados, fragas, o curso de um rio ou a matança de um porco, faz-se acompanhar de fragmentos de textos do poeta inglês Edmund Spenser e do sueco Stig Dagerman, autor de «A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer».



João Vladimiro, 32 anos, é ator na companhia Circolando e tem formação em design gráfico e realização de documentários.

Já foi premiado no IndieLisboa, em 2006, com a curta-metragem «Pé na Terra», e dois anos depois estreou «Jardim» no DocLisboa.

«Um Fim do Mundo» e «Lacrau» integram a competição nacional do festival IndieLisboa, que começou na quinta-feira e termina no dia 28 de abril.
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