Só metas rigorosas podem travar aquecimento global - TVI

Só metas rigorosas podem travar aquecimento global

  • Portugal Diário
  • 25 jan 2007, 13:45

Especialista defende o envolvimento de todos os países

O especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos afirmou hoje que só metas rigorosas para conter as emissões de gases com efeito de estufa e o envolvimento de todos num compromisso pós-Quioto poderão limitar a subida das temperaturas até 2100, noticia a Lusa.

Filipe Duarte Santos é um dos relatores do segundo volume do quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), que se reúne em Paris a partir de 29 de Janeiro para apresentar a avaliação científica d o estado do clima.

A comunidade científica é unânime em apontar uma concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera limitada a 450-550 partes por milhão (ppm) para impedir que a temperatura não suba mais do que dois graus centígrados até 2100.

Um aumento que, ainda assim, como sublinhou Filipe Duarte Santos, será superior nas zonas continentais. «Em Portugal, o aumento pode chegar aos três ou quatro graus. A média dos dois graus é global, o que significa que se nos oceanos a temperatura é mais baixa, nas regiões continentais será superior», disse.

Com uma concentração actual de dióxido de carbono de 380 ppm na atmosfera (um valor mais de 30 por cento acima do que se verificava na época pré-industrial), o cenário não é famoso.

«Se nada for feito, as projecções apontam para que se atinja uma concentração de 800 ppm na atmosfera em 2100, o que significa que a temperatura média global pode subir até cinco graus», indicou o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

O que tem sido feito «é insuficiente» e tem tido poucos efeitos na prática.

O protocolo de Quioto, por exemplo, apontava apenas para uma redução de cinco por cento das emissões de gases com efeito de estufa dos países industrializados até 2012, face aos valores do ano de referência de 1990.

Uma meta claramente inferior à que os cientistas estimam ser necessária para travar os efeitos do aquecimento global.

Segundo Filipe Duarte Santos, para estabilizar a concentração de CO2 na atmosfera nas 450-500 ppm, seria necessário que todos os países do mundo concordassem em reduzir as suas emissões em 30 por cento até 2020 e 50 por cento até 2 050, face aos valores de 1990.

No entanto, até agora, apenas a União Europeia indicou o objectivo de reduzir as suas emissões em, pelo menos, 20 por cento até 2020.

Filipe Duarte Santos acrescentou que «seria desejável» que o pós-Quioto incluísse os países em desenvolvimento, como a China, a Índia ou o Brasil, mas admite que será «muito difícil» se não se contar com a «liderança» dos EUA, responsável por um quarto das emissões globais.

A administração Bush rejeitou o protocolo de Quioto em 2001, mas alguns estados norte-americanos mostram-se já empenhados em reduzir a poluição, em contracorrente com o presidente republicano.
Continue a ler esta notícia