Dívidas não devem ultrapassar 45% do orçamento pessoal - TVI

Dívidas não devem ultrapassar 45% do orçamento pessoal

  • Rui Pedro Vieira
  • 7 dez 2007, 17:30
dinheiro

«Quando há muito dinheiro, as decisões são geralmente piores»

Casa, carro e outros créditos nunca devem ir além dos 45 por cento do orçamento pessoal. O aviso é do director da Associação para o Posicionamento Estratégico e Financeiro (Apefi), João Martins, que fala sobre os problemas dos portugueses com o crédito. Em entrevista à Agência Financeira, o também coordenador do Portal da Poupança recorda ainda que «o crédito ao consumo nunca enriqueceu ninguém».

Quando é que o nível de endividamento se torna perigoso?

Os números dizem que, a nível da proporção da dívida no orçamento, a habitação deveria estar nos 30% e todos os restantes créditos nos 5%. Isto é completamente irreal. Ninguém o consegue ou, infelizmente, muito pouca gente o faz. Os bancos, por exemplo, estão a conceder crédito aos 45%. A nível financeiro, no caso dos créditos rápidos por telefone, estão a conceder crédito a níveis que preenchem o orçamento em 80 ou 90%. Há situações em que a pessoa tem mais créditos do que rendimentos. Como é que isto é possível?

Mas para a maioria das pessoas é impossível comprar casa sem recorrer ao crédito.

Por isso mesmo, achamos que o nível de endividamento aceitável, tendo em conta as condições de hoje, é de 45%. Este é o valor que se assume para a casa, mas que a nosso ver deve já englobar outros créditos como o do carro. Além disso, as pessoas não devem recorrer a crédito ao consumo, porque não enriquece ninguém e o que faz é sobrecarregar o orçamento e levar uma dívida para o futuro.

Que tipo de atenção deve ter quem faz consolidação de créditos?

A consolidação de créditos tornou-se moda. Agora, há dois ou três meses, começa a surgir a ideia de que a consolidação é uma estupidez porque se altera uma dívida de, em alguns casos, poucos anos para 30 ou 40, o que é verdade. Nem sempre a consolidação é a pior opção, mas geralmente é. Há maneiras de fazer com que nunca seja. Defendemos um tipo de consolidação inteligente, que compensa muito: usar parte da poupança que se obtém ao fim do ano com a consolidação para amortizar a dívida. E isto é mais compensador do que deixar tudo na mesma. Conseguimos um acordo com uma entidade financeira, em que desenhámos este programa, onde as pessoas têm uma conta paralela e não têm despesas de amortização antecipada. Isto reduz uma dívida normal de 30 para 19 anos e baixa 30 mil euros de despesas face ao acto de deixar tudo como está.

Por que é que só a APEFI se lembrou disso? Os bancos não deveriam preocupar-se mais com soluções mais vantajosas para o bolso do cliente?

Por muito que se fale do papel social dos bancos, esse é relativo. Os bancos, no fundo, são como qualquer outra empresa. O objectivo de uma empresa não é outro que não seja o seu lucro. As instituições financeiras, a nosso ver, são como merceeiros que em vez de venderem maçãs, vendem dinheiro. Baixar uma dívida de 30 para 19 anos, e em que a dívida principal está a decair todos os meses, não é nada rentável para os bancos. Não seria da parte deles que estávamos à espera de ouvir uma proposta como a nossa, mas da parte da sociedade civil ou até da própria educação financeira das pessoas.

A nível cultural, estamos habituados a poupar?

Estávamos. Poupar é até mais compensador agora do que no passado. O que se passa é que a população tem hoje mais poder de compra e gasta também mais. Com a entrada da União Europeia veio muito dinheiro para o país e, normalmente, quando há muito dinheiro as decisões são geralmente piores.

Tendo em conta que é muito difícil viver sem contrair créditos, há, por outro lado, um maior esforço em endividamento com inteligência?

Sim, começam a haver casos em que as pessoas admitem que não foram educadas devidamente e que podem acabar um mestrado sem nunca ouvirem falar de juros ou de «spread». Antigamente, havia muito a ideia de que a gestão financeira era só para ricos mas hoje já temos pessoas que antes de se quererem endividar, querem saber como o fazer da melhor maneira.
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