Inflação «está mais perto dos 10% do que dos 3%» - TVI

Inflação «está mais perto dos 10% do que dos 3%»

  • Rui Pedro Vieira
  • 7 dez 2007, 17:39
apefi

O mundo está endividado

A política de estabilização das contas públicas não está a ser bem percebida pelos portugueses. Motivo? Segundo o director da Associação para o Posicionamento Estratégico e Financeiro (APEFI), o problema está no facto das decisões do Governo se basearem em relatórios que não reflectem a realidade. Em entrevista à Agência Financeira, João Martins concorda com a baixa de impostos e antevê um ano de 2008 mais complicado.

A nível político, sente que o esforço que o Governo pede para estabilizar as contas públicas está a ser bem recebido pelos portugueses?

Não está, mas também não sabemos se a coisa está a ser bem feita. O modo como se está a fazer essa estabilização não é sempre o mais compreensível para o público, que não entende como existem tantas desigualdades. Nos anos 80, o sector público teve de ganhar muitas regalias para se equiparar ao privado. Hoje, passa-se o contrário: têm de retirar regalias ao público porque o sector privado está a ganhar pior. Isto cai mal! Depois, há o défice no centro de tudo. Convém lembrar que o Reino Unido também teve o nosso problema de um défice excessivo e a contra-ordenação foi arquivada. Nós temos de apertar o cinto todos os dias. Depois, e tendo em conta que os estudamos todos os dias, o problema está nos relatórios que saem e que não têm nada a ver com a realidade. Fala-se de uma inflação de 3 por cento, mas vemos as coisas sempre a aumentar: de certeza que a inflação está mais perto dos 10% do que dos 3%. Todas as decisões políticas são tomadas a partir de relatórios que não reflectem minimamente a realidade. Olhe-se para os Estados Unidos: grandes instituições financeiras estão a colapsar umas atrás das outras. O Citigroup, por exemplo, já anunciou o despedimento de 17 mil empregados.

A medida a tomar seria a baixa imediata de impostos ou seguir a linha do Governo de esperar mais dois anos?

O nosso ponto de vista é de um sim redondo na baixa de impostos. Mas para o nosso sim existem mil nãos. Há países da União Europeia que optaram por baixar os impostos, como a Eslováquia ou a Irlanda, e que agora são alvo de represálias por parte dos grandes países como a França ou a Alemanha, porque lhe estão a retirar negócios.

É o que se passa no caso de Portugal e Espanha quanto à diferença de preços dos combustíveis...

Sim, a Espanha está-nos a roubar clientes por ter os impostos sobre os combustíveis mais baratos. A questão é que quando temos um país inteiro com impostos mais baixos do que os que o rodeiam é natural que as empresas se queiram deslocalizar para lá. E isto leva a um princípio um bocadinho perverso de harmonização das taxas de impostos por cima e não por baixo. A Eslováquia e a Irlanda estão agora a receber grandes pressões para aumentarem os impostos, porque estão a retirar emprego e produtividade aos grandes países.

O próximo ano vai ser pior do que este?

Tudo indica que sim, que 2008 vai ser pior do que 2007. A inflação vai começar a subir em flecha. Toda a gente fala que esta crise se deve à falta de liquidez mas não: isto é uma crise de solvência. Não há dinheiro para pagar os créditos contraídos! Em 1996, os derivados do crédito representavam à volta de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, hoje representam mais de 50%. E isto tudo em apenas dez anos... Isto é brutal se pensarmos, acima de tudo, como o juro cresce, a subida não é imediatamente apreensível pelo cidadão comum. O mundo está completamente endividado.
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