Chic: videovigilância filmou tiros - TVI

Chic: videovigilância filmou tiros

Discoteca Chic (foto: Claudia Rosenbusch)

Pode ver-se mais dois carros que passavam no local. Mas ninguém voltou para testemunhar o que viu. «Toda a gente é cega, surda e muda», queixa-se fonte policial. Seguranças ilegais criam desacatos para depois venderem os seus serviços. Proprietários extorquidos preferem não denunciar.Noite do Porto à margem da lei

O sistema de videovigilância da discoteca «Chic», à porta da qual o proprietário, Aurélio Palha, foi baleado mortalmente, registou as imagens da carrinha escura de vidros fumados, de onde partiram os disparos, bem como de outros dois carros que passavam no local nesse preciso momento.

De acordo com informações recolhidas pelo PortugalDiário, a câmara estava direccionada para a porta da discoteca, que por ser espelhada reflectiu as imagens da via pública.

Nelas pode visionar-se os clarões dos disparos com as duas armas utilizadas, a carrinha Mercedes e, de seguida, mais dois veículos que por ali passavam no momento. As imagens mostram mesmo um dos condutores a inverter a marcha, provavelmente assustado com o cenário que se lhe deparou.

A PJ recolheu as imagens, que não permitem identificar a matrícula dos três veículos, nem os seus ocupantes. Ninguém voltou ao local para testemunhar o que viu.

Esta tem sido de resto a principal dificuldade das autoridades ao longo dos últimos meses. «Toda a gente é cega, surda e muda», queixa-se uma fonte policial.

As autoridades sabem que há seguranças ilegais a extorquir empresários: criam desacatos nos espaços de diversão nocturna para logo de seguida venderem segurança em troca de quantias avultadas.

«Sabemos que isto acontece, mas os empresários calam-se, ou porque foram ameaçados, eles e as respectivas famílias, ou porque também não têm um passado impoluto e preferem ter a polícia à distância», explica uma fonte policial. «Enquanto os empresários não denunciarem estas situações o nosso campo de actuação fica muito limitado», esclareceu a mesma fonte.

Quatro homicídios investigados de forma articulada

A Polícia Judiciária está a investigar os quatro homicídios ocorridos nos últimos dois meses no Porto [Confira a cronologia das mortes dos últimos meses] e que apresentam elementos de conexão. As vítimas estão todas ligadas à segurança nocturna (Aurélio Palha era empresário da noite e fazia-se acompanhar por um indivíduo referenciado como segurança) e as autoridades acreditam que os agressores também.

Alguns estão mesmo sinalizados por crimes de posse de arma, extorsão e ameaças e até por colaboração no tráfico de estupefacientes. Veja Porto: negócios de (in)segurança»

Os diversos crimes que o negócio da segurança nocturna ilegal envolvem, levou as autoridades a investigarem os casos de forma integrada, entre as secções do combate ao banditismo, o tráfico de droga, homicídios e o branqueamento de capitais.

A investigação ao homicídio de Aurélio Palha ainda não determinou se os tiros eram dirigidos ao empresário, ao segurança que o acompanhava, e que escapou ileso, ou se até aos dois, referiu à Lusa uma fonte da PJ do Porto.

Se por um lado os tiros certeiros, na cabeça e no abdómen, evidenciam que o alvo Aurélio Palha estava bem definido (acresce que a vítima e o segurança apresentam uma fisionomia bastante diferente pelo que não seriam facilmente confundidos), por outro lado, fontes policiais admitem que o curriculum do segurança faria dele um alvo «mais óbvio».

Segundo a mesma fonte, este tem processos pendentes, designadamente por extorsão e ameaças, e encontra-se actualmente em liberdade condicional por crimes associados à actividade de segurança ilegal.

Vítima e segurança saíam do restaurante «Boi na Brasa», propriedade do primeiro, por volta das 3:30 da manhã. Aurélio já se encontrava no passeio em direcção ao carro. O acompanhante seguia atrás e conseguiu esconder-se atrás do muro quando os disparos começaram.

As autoridades acreditam que os tiroteios não vão ficar por aqui.
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