A intervenção que a Volkswagen está a realizar nos carros com emissões falsificadas "é inútil". O alerta é da Deco, a associação para a defesa dos consumidores, que cita um estudo realizado pela Altroconsumo, a sua congénere italiana.
“A única alteração detetada em laboratório, para os valores das emissões de óxido de azoto (NOX), é o seu aumento em mais de 13% relativamente aos valores medidos antes da intervenção realizada nas oficinas da marca alemã. Ou seja, o problema inicial não é de forma alguma corrigido. Pelo contrário, agrava-se”, diz a Deco.
E acrescenta que “as emissões de NOX medidas excedem em cerca de 25% os limites máximos admissíveis para que um veículo possa ser homologado como Euro 5, o que suscita graves interrogações relativamente à homologação destes veículos e à sua circulação no espaço europeu”.
Por isso mesmo, a associação diz que “os primeiros resultados desta intervenção técnica são dececionantes”. Leia-se: intervenções afetadas nas oficinas da marca em carros com "defeito".
O esquema fraudulento implementado pela Volkswagen em alguns carros foi revelado há quase um ano. Inicialmente foi detetado nos Estados Unidos e afetava cerca de meio milhão de veículos. Mas rapidamente se concluiu que a fraude era muito mais extensa e que poderia envolver mais de 10 milhões de carros, cerca de cento e vinte mil dos quais em Portugal (das marcas Volkswagen, Audi, Skoda e Seat).
Uma das decisões tomadas pela marca alemã, em conjunto com as autoridades dos vários países, foi proceder à eliminação do mecanismo fraudulento nos veículos. Uma eliminação que, na opinião da Deco, está longe de estar resolvida.
“Consumidores de primeira e de segunda”
A associação fala ainda de “clientes de primeira e segunda”, referindo-se às indemnizações previstas nos Estados Unidos e os reembolsos na Europa, a clientes com carros “defeito”.
Nos Estados Unidos, as autoridades locais não aceitaram o mero pedido de desculpas dos responsáveis da marca alemã e intentaram investigações que podem resultar em avultadíssimas multas”, recorda a Deco.
Na Europa, numa decisão que estabelece patamares com consumidores de primeira, os americanos, e de segunda, os europeus, a marca alemã, simplesmente nega qualquer pagamento aos enganados e trata o problema como se fosse um mero incómodo ou até inexistente. Mas não é, bem pelo contrário”, acrescenta.
Neste contexto, a Deco aguarda “pelas respostas da marca alemã e por um desfecho equilibrado e justo para o problema que criou e por ter enganado tantos milhares de consumidores portugueses, ou definiremos novos caminhos de ação.”