Desemprego: CGTP fala em "tentativa de aproveitamento de números" - TVI

Desemprego: CGTP fala em "tentativa de aproveitamento de números"

Arménio Carlos acusa Governo de esconder austeridade

“Não se tem em consideração que temos cerca de 1,3 milhões de pessoas que estão desempregadas ou subocupadas", entende Arménio Carlos

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A CGTP afirmou-se “preocupadíssima” com os números do desemprego divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, considerando que evidenciam um “desemprego estrutural profundamente preocupante” agravado pela “degradação da qualidade do emprego, salários e proteção social”.

“Estamos preocupadíssimos com aquilo que se está a passar e entendemos que, por mais manipulações ou tentativa de aproveitamento de números, o que importa é ter presente a realidade concreta do país em todas as suas vertentes. Estes números do desemprego, mais a mais divulgados nesta época sazonal em que por norma até é criado algum emprego precário, ao contrário do que o Governo procura fazer crer, não nos satisfazem e muito menos nos deixam descansados”, sustentou o secretário-geral da intersindical em declarações à agência Lusa.


Segundo Arménio Carlos, para além dos números do desemprego “há que ter consciência que a maior parte do emprego que está a ser criado é precário e que a precariedade continua a ser uma antecâmara do desemprego”.

“Uma parte dos trabalhadores que agora foram contratados daqui a poucos meses, quando terminar esta época de sazonalidade, corre o risco de voltar novamente ao desemprego ou de ser inserido em programas de estágios ou outros, precisamente para manipular as estatísticas do desemprego e para procurar dar a ideia que as coisas estão a melhorar”, sustentou.

Contudo, alertou, aquilo a que se assiste é “não só a um desemprego estrutural que é profundamente preocupante, como a uma degradação da qualidade do emprego e dos salários e da proteção social, que é ainda mais preocupante”.

“Não se tem em consideração que temos cerca de 1,3 milhões de pessoas que estão desempregadas ou subocupadas: os desempregados oficiais; as dezenas de milhares de pessoas que, estando desempregadas, estão inseridas nos contratos emprego inserção; as dezenas de milhares de estagiários dos quais mais de dois terços não se fixa na empresa; os inativos e os desencorajados”, afirmou Arménio Carlos.


Adicionalmente, sustenta, “é preciso não esquecer as cerca de 500 mil pessoas que, nos últimos cinco anos, abandonaram o país e deixaram de constar dos números”, assim como o facto de “mais de metade dos desempregados neste momento não receberem qualquer tipo de proteção social”.

A t axa de desemprego manteve-se inalterada em junho face a maio, nos 12,4%
, segundo a estimativa mensal hoje divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

“A estimativa provisória da taxa de desemprego para junho de 2015 situa-se em 12,4%, mantendo-se inalterada em relação à estimativa definitiva obtida para maio de 2015”, refere o INE.

Segundo o instituto estatístico, a estimativa provisória da população desempregada para junho de 2015 foi de 636,4 mil pessoas, enquanto a estimativa provisória da população empregada foi de 4.492,7 mil pessoas, mantendo-se ambas “praticamente inalteradas” em relação ao mês anterior.


Programa da coligação "determina mais quatro anos de retrocesso"

A CGTP reagiu também programa eleitoral do PSD/CDS apresentado na quarta-feira. Segundo a inter-sindical, o programa “determina mais quatro anos de retrocesso social, estagnação económica e empobrecimento”, tendo como “grande objetivo salvar a política de direita” atacando salários, pensões e funções sociais do Estado.

“Independentemente de apresentar uma roupagem diferente, no essencial é marcado pela mesma opção ideológica e pelo mesmo objetivo de dar continuidade à política de direita, marcada pelo Tratado Orçamental e diretamente dirigida para continuar a conter ou reduzir salários e pensões e a atacar direitos fundamentais dos trabalhadores e das populações, desde logo no que respeita às funções sociais do Estado e particularmente à Segurança Social”, afirmou o secretário-geral da Intersindical em declarações à agência Lusa.


Para Arménio Carlos, o programa apresentado pela atual maioria “é nem mais nem menos do que a tentativa de reconfiguração do sistema público universal e solidário da Segurança Social, transformando-o num sistema assistencialista e caritativo e com o anúncio de uma nova redução das pensões de reforma para todos os trabalhadores que hoje estão no ativo”.

“O programa agora apresentado pelo PSD/CDS não só não responde aos problemas do povo e do país, como é marcado por uma opção ideológica onde pontua o retrocesso social e civilizacional, […] nomeadamente quanto à exigência da revisão da Constituição da República Portuguesa e da reconfiguração do Estado, procurando torná-lo residual para os trabalhadores e global para o capital”, afirmou.

Adicionalmente, disse o dirigente sindical, contrariando a ideia de que “querem combater as desigualdades", não há no programa do PSD/CDS "uma referência no que respeita à melhoria dos salários: pelo contrário, o que há é um protelamento na reposição dos salários e das pensões que foram retirados e a confirmação que não vai haver aumento das pensões de reforma além das mínimas das mínimas”.

“Das propostas eleitorais da coligação de direita para a área do emprego apenas se pode esperar que acentuem a instabilidade e a precariedade laboral, os baixos salários, a desproteção dos trabalhadores e a substituição das relações laborais coletivas pelas relações individuais”, sustentou.

Em matéria fiscal, a CGTP diz não haver também “nada de novo” no programa da coligação: “Apesar da redução do IRC em dois pontos percentuais e de as restantes alterações feitas ao abrigo da reforma do IRC já terem custado ao Estado mais de 400 milhões de euros, o PSD e CDS são categóricos em afirmar que os impostos sobre os lucros são para continuar a reduzir”, refere.

Já “a injusta e ilegítima sobretaxa de IRS está para ficar até 2019, com ligeiras reduções graduais e que nem de perto, nem de longe, repõe os 2,1 mil milhões pagos desde que ela existe”, acrescenta.

Adicionalmente, Arménio Carlos salienta que “o mesmo Governo e os mesmos partidos que sistematicamente invocam que há uma criação de emprego sem termo omitem e procuram esconder dados concretos que evidenciam que desde novembro de 2013 até junho passado 85% desses contratos são precários, não são efetivos”.

Por outro lado, estes mesmos dados evidenciam que o salário médio dos contratos efetuados no último ano e meio ronda os 564 euros mensais, o que “confirma que este Governo continua a insistir na precariedade e nos baixos salários”, responsáveis pela atual situação em que 2,7 milhões de pessoas, 576 mil das quais crianças, se encontram em situação de pobreza.
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