Carlos Costa: «Portugal já está em recessão económica» - TVI

Carlos Costa: «Portugal já está em recessão económica»

Banca está sólida mas deveria reforçar capitais próprios, alerta governador do Banco de Portugal

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O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, diz em entrevista ao jornal «Diário Económico» que o país já está em recessão e que a esperança reside agora nas exportações.

«Pode dizer-se que estamos em recessão. A dinâmica das variáveis macro-económicas vai produzir aquilo que dissemos e que as instituições internacionais confirmaram: uma recessão económica durante o ano de 2011 que é a contrapartida do processo de ajustamento, de emagrecimento», assegura.

Como contornar o problema? «Quando retiro um dado estímulo à economia, tenho que ter uma posologia de compensação e ver onde é que vou buscar novos estímulos para ela. Nesta situação, eles só podem vir das exportações».

«Admiro francamente a resistência de Teixeira dos Santos»

Trabalhando «no detalhe» com o ministro das Finanças, o governador do Banco de Portugal admira «francamente a resistência» de Teixeira dos Santos. «Ninguém está mais consciente do que é necessário fazer e das nossas dificuldades».

Sobre a execução orçamental, Carlos Costa avisa que «os agentes políticos, económicos e sociais têm de incorporar que não há almoços gratuitos! E que este ajustamento orçamental é consequência de uma menor disciplina no passado. Mais tarde ou mais cedo , essa indisciplina teria de ser paga».

Frisando que «gostava que houvesse resultados claros de execução orçamental» e, do lado europeu, «resultados claros na reafirmação do modelo de governação económica», Carlos Costa diz que o pedido de socorro português ao FMI depende destes dois «comboios»: «O nosso, que é a trajectória de ajustamento e redução do défice orçamental; e o europeu, que é o que passa pelas decisões do Conselho Europeu, a revisão do Pacto de Estabilidade, a revisão do modelo de ¿governance` europeu». Mas, alerta, «não nos podemos concentrar só no comboio europeu e esquecer que o nosso tem que chegar a tempo à estação!».

Défice: «Prometemos, teremos de cumprir»

A meta de redução do défice para 4,6% é mais ambiciosa do que outros Estados-membros, diz o governador do BdP, mas «a partir do momento em que nos comprometemos, teremos de o fazer».

Carlos Costa garante ainda ter boas relações com o Governo de Sócrates e espera resultados claros da execução orçamental, sem esquecer que é preciso cumprir os objectivos acordados com Bruxelas.

Tudo no sentido de «assegurar que a trajectória de ajustamento das finanças públicas é consistente; que garante a sustentabilidade a médio prazo; que é credível do ponto de vista dos mercados». Preocupações partilhadas pelo presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, «o primeiro interessado na demonstração da capacidade dos portugueses para seguirem uma rota consistente de ajustamento» e «o primeiro a preocupar-se se nos afastarmos dela».

E, «como é próprio de um governador de um Banco Cnentral ele tem de manter a pressão sobre nós, da mesma forma que eu espero manter a pressão sobre quem tem de decidir em matéria de finanças públicas». Mas, mais do que pressões, são «avisos, conselhos indicações».

Banca nacional está sólida, mas...

Quanto à situação da banca portuguesa, o governador é claro: «está sólida» mas, ainda assim, volta a insistir na necessidade dos bancos reforçarem os seus capitais próprios. «Numa menos favorável conjuntura é preciso aumentar as resistências. Tomando o exemplo das marés, ¿quem vai ao mar, avia-se em terra`. Ou seja, a banca está sólida, capitalizada, mas é prudente e desejável que reforce os seus capitais».

E o que tem a dizer Carlos Costa sobre o BPN? «O facto de a gestão do banco ter sido confiada à Caixa Geral de Depósitos (...) levou a que, necessariamente, houvesse uma transfusão cultural da Caixa para o BPN. Ora é isso que explica que o BPN não tenha prosseguido com práticas agressivas em termos de taxas de juro» e «que também não as tenha seguido na retenção de clientes. Na prática, o BPN perdeu clientes».

[Notícia actualizada]
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