FMI: corte de salários também pode chegar aos privados - TVI

FMI: corte de salários também pode chegar aos privados

Sem dinheiro

Além de corrigir as contas públicas, também é preciso devolver a competitividade à economia

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O Fundo Monetário Internacional (FMI) já tem porta aberta para entrar em Portugal. E na mala vai trazer... mais austeridade. Aumento de impostos, cortes nas prestações sociais, redução de pensões e salários são apenas algumas das medidas que poderão vir na bagagem.

E que não se iluda quem não trabalha para o Estado: o corte de salários pode chegar também às empresas e afectar os trabalhadores do sector privado.

A julgar pelos exemplos da Grécia e Irlanda, as medidas serão severas. Cortar a despesa do Estado vai ser a palavra de ordem, e por isso poderá haver um corte no número de funcionários públicos, e os salários da função pública e as pensões não deverão escapar à tesoura do Fundo. Os subsídios de Natal e de férias também poderão encolher, desaparecer ou ser pagos em títulos de dívida pública em vez de dinheiro. Tudo é possível.

Baixar salários para tornar empresas mais competitivas

Mas a consolidação das contas públicas não é a única receita. É também preciso repor a economia, como um todo, no caminho da competitividade e da sustentabilidade, e aí, inclui-se também o sector privado, ou seja os cortes salariais podem chegar às empresas.

O remédio que hoje não podemos usar, foi aquele a que recorremos na década de 80: a última vez em que o FMI veio a Portugal, o país ainda contava com um trunfo, que hoje não tem - o escudo. O Governo pôde desvalorizar a moeda e tornar o país e as exportações mais atractivas para os estrangeiros. Desta vez, com o euro, isso não é uma possibilidade.

Por isso, o único trunfo que resta é a política de rendimentos: vai ser preciso favorecer a competitividade das empresas e para isso só baixando os salários.

A receita aplicada à Grécia...

Na Grécia já aconteceu: o país pediu ajuda há um ano. Desde então, os salários mais elevados sofreram cortes acentuados, e os funcionários públicos a contrato foram despedidos. Os subsídios de Natal e de férias foram eliminados ou reduzidos nos rendimentos mais baixos.

Nas pensões, os gregos foram obrigados a tomar medidas já aplicadas em Portugal, com o aumento da idade da reforma e o novo cálculo das pensões.

Nos impostos, o IVA subiu de 21 para 23% e os impostos sobre o álcool, combustíveis e tabaco subiram 10%.

... e à Irlanda

Na Irlanda a receita não foi muito diferente: o FMI aplicou praticamente as mesmas medidas, mas dando especial atenção ao sector bancário, onde se centravam também os problemas do país. Foram despedidos 25 mil funcionários públicos, o salário mínimo, de 1.500 euros, baixou 10%, o mesmo que as pensões para os novos reformados. Também aqui o IVA aumentou dois pontos para 23% e o imposto sobre rendimento (equivalente ao nosso IRS) também aumentou.

Foi ainda criado um imposto especial para quem detém imóveis. A Irlanda recusou-se a aplicar outra medida que o FMI queria: aumentar o imposto sobre as empresas (equivalente ao IRC), que é o mais baixo da Europa (12,5%).

Em Portugal o fado é outro, mas o disco deverá tocar quase o mesmo.
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