Mulheres são cada vez mais o «único ganha pão» em casa - TVI

Mulheres são cada vez mais o «único ganha pão» em casa

Percentagem de casais portugueses em que ambos estão sem trabalho pago foi uma das mais elevadas (2.6%) entre os países analisados

As portuguesas fazem menos trabalho doméstico que há dez anos e 16,5% das mulheres em Portugal são o «único ganha-pão» na família, segundo um inquérito europeu.

A análise do último inquérito social europeu sobre divisão do trabalho pago, da autoria de Karin Wall e de Sofia Aboim, mostra o crescente aumento de mulheres no mercado de trabalho e o crescimento do número de horas que os homens dedicam ao trabalho doméstico, embora bastante menos que as mulheres.

As investigadoras do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa notaram uma tendência para o «aumento rápido» do modelo em que apenas a mulher trabalha fora de casa: 16,5% em casais portugueses entre os 18 e os 65 anos contra 2% em 2002, adianta a Lusa.

O valor é mais elevado entre casais com menor escolaridade e pessoa mais velhas, sobretudo entre os 51 e os 65 anos.

Em Portugal, a percentagem de casais em que ambos estão sem trabalho pago foi uma das mais elevadas (2.6%) entre os países analisados.

«O tradicional modelo do ganha-pão masculino (em que apenas o homem trabalha fora de casa) abarca hoje, segundo estes dados, 17,9% dos casos (17% também em 2002)», lê-se.

Os números podem ser justificados com o «aumento do desemprego masculino para níveis históricos», superando, pela primeira vez, o número de mulheres desempregadas.

Segundo o estudo que vai ser apresentado na quinta-feira, em Lisboa, as mulheres fazem em média o mesmo numero de horas de trabalho doméstico do que as belgas e as alemãs.

«As mais novas dedicam menos tempo ao trabalho doméstico, diminuindo assim a diferença que as separa dos homens», indicam as investigadoras.

Em Portugal, quando as mulheres trabalham fora, os homens continuam a fazer menos de cinco horas de trabalho doméstico por semana contra as 21,8 horas das mulheres.

São os homens em casais em que ambos trabalham que mais fazem trabalho doméstico (quase seis horas).

Ainda aceitamos sacrifício da carreira da mulher por causa da família

No contexto europeu, os países nórdicos são os únicos na Europa a rejeitar, de forma clara, que as mulheres sacrifiquem as suas carreiras profissionais pela família, mas em Portugal essa possibilidade tem mais aceitação, segundo o mesmo inquérito.

«Num contexto de crise financeira e económica e com orçamentos familiares mais curtos, em Portugal, Espanha e Irlanda a concordância com esta ideia diminui», indicam os investigadores na sua análise, referindo-se às mulheres ficarem em casa numa prioridade à família.

Outra das conclusões indica a família como a «principal prioridade da vida dos indivíduos».

No resumo do trabalho, pode ler-se que há uma «tendência igualitária de género», isto é a convergência entre todos os países da Europa e um elevado grau de concordância com a «ideia de que os homens deviam ter tantas responsabilidades como as mulheres em relação à casa e aos filhos».

Da análise dos inquéritos, indica-se que o modelo da família assente no homem trabalhador é «ultrapassado e as famílias europeias assentam na dupla carreira».

«Mesmo no atual cenário de crise económica e financeira, em que se poderia imaginar alguns retrocessos, aos homens não é atribuída prioridade no acesso ao trabalho», indicam os investigadores sociais.

Os dados vão ser apresentados na quinta-feira durante o XIII Seminário de Apresentação de Resultados do European Social Survey (ESS ¿ Inquérito Europeu Social), no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
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