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Economistas preferem plano do FMI

Juros são mais baixos do que os cobrados na proposta da Comissão Europeia

Mais vale a proposta do FMI do que a da União Europeia. Os economistas portugueses preferem o plano de ajuda financeira desenhado pelo Fundo Monetário Internacional, porque tem um prazo maior. Logo, acarreta juros mais baixos para Portugal pagar, como defende o próprio director do organismo, Dominique Strauss-Kahn.

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«A lógica apontaria para que fosse ao contrário, ou seja, os papéis acabam por estar invertidos», disse à agência Lusa o economista Luís Nazaré, ligado ao PS, quando questionado sobre os detalhes que vão sendo conhecidos sobre o plano de resgate a Portugal pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI.

Já o economista João Duque admitiu «ter ficado um pouco surpreendido» ao ter conhecimento (ainda que pouco profundo) dos planos que o FMI e Bruxelas têm em cima da mesa. «Parece-me mais adequado o plano do FMI do que a proposta da Comissão Europeia». O também conselheiro do líder do PSD diz que o essencial, nesta altura, é aliviar a pressão financeira sentida por Portugal mas dar fôlego a algumas injecções de investimento que melhorem a competitividade e a produtividade do país.

A inversão de papéis

Também Manuel Caldeira Cabral, professor de Economia na Universidade do Minho e próximo do PS, alinhou pelo mesmo diapasão: «Há algumas coisas em que o Atlântico está hoje invertido», com a Europa a assumir uma postura mais conservadora, ao passo que os Estados Unidos da América (EUA) seguem uma política mais expansionista. «Todos têm interesse que seja implementada uma solução de médio e longo prazo, justa e equilibrada, para Portugal».

É que « uma intervenção demasiado dura não resulta. Acho que a renegociação das condições dadas à Grécia e à Irlanda é um bom sinal». Mas, alertou, há o perigo de, caso o resgate financeiro a Portugal não seja bem sucedido, haver um contágio a países como a Espanha, a Itália ou a Bélgica. Uma opinião que, de resto, é partilhada pelos outros economistas ouvidos.

Não se consegue nada com «práticas sanguinárias»

Luís Nazaré sublinhou que Strauss-Kahn «é uma pessoa com uma personalidade mais sensível às questões sociais», enquanto «na Europa há hoje um forte cunho de direita, nalguns casos, com governos populistas» que querem agradar às suas opiniões públicas. Opiniões essas que, por vezes, são contrárias ao apoio aos países europeus em dificuldades.

«Isto impediu a Europa de ter uma resposta enérgica logo quando foi preciso intervir na Grécia. Considero que tem havido um défice de visão europeia». O economista realçou ainda que «há um cunho conservador e populista nalguns governos europeus, que pode ser visto como uma marca egoísta do norte da Europa contra uma visão e política solidárias».

Nazaré recordou que, por seu lado, o FMI «já passou por muitas crises em muitas latitudes, pelo que aprendeu a ser moderado nas intervenções. Percebeu que não se consegue nada com práticas sanguinárias».

Assim, «Strauss-Kanh está mais próximo de Jacques Delors [político francês que presidiu a Comissão Europeia entre 1985 e 1995 e que deu um forte impulso ao processo de integração europeia] do que da Europa egoísta da senhora Merkel».

As negociações sobre o resgate português começam já esta segunda-feira. Paul Thomsen (FMI), Rasmus Rüffer (BCE) e Jürgen Kröger (Comissão Europeia) lideram a missão técnica de ajuda a Portugal.

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