Energia: empresa espanhola cancela investimento na Argentina

A empresa energética espanhola N2S anunciou esta quarta-feira que suspendeu os planos de investimento na Argentina depois da nacionalização da YPF, filial da petrolífera espanhola Repsol naquele país da América Latina.

O diretor - geral e sócio fundador da empresa, Francisco de la Peña, que tem entre os seus acionistas a Gamesa, disse que a N2S tinha previsto montar na Argentina, este ano, uma estrutura de «até 20 pessoas» dedicadas a comercializar os seus produtos e soluções, como avança a Lusa.

A empresa pretendia ainda instalar um centro de apoio para toda a América Latina e um centro de Investigação e Desenvolvimento, devendo os fundos destinados ao projeto serem agora canalizados para outros países da região e, para a entrada no Chile, que será mais cedo do que o previsto.

«Honestamente a nacionalização da YPF provocou muita pena. Tinhamos muito potencial na Argentina, com grandes profissionais e técnicos, mas quem se atreve a jogar com isto? Não posso dizer aos meus acionistas que vou a um país que, de um dia para o outro, nos pode simplesmente dizer: muito obrigado», acrescentou.

«Penso que vai haver um efeito dominó. Estou convencido que empresas espanholas, mas também de outros países estão a reconsiderar o seu investimento na Argentina», sublinhou.

A decisão da N2S é a primeira conhecida de uma empresa que recua nos seus investimentos na Argentina depois da presidente do país, Cristina Kirchner ter anunciado ontem a nacionalização da YPF.

«O mais prejudicado do meu ponto de vista é o próprio Estado e o povo argentino, num momento em que, apesar da inflação, há potencial para voltar a entrar na «primeira classe» vai voltar à época do «corralito» [momento histórico na Argentina, quando em 2001 foi adotada uma medida que impediu a queda do sistema financeiro]¿, disse La Peña.

A N2S é uma empresa tecnológica, que foi criada em 2006 e que conta já com 35 empregados e presença em vários países, incluindo Portugal e o Brasil, tendo entre os seus acionistas a Gamesa.

Especializada em inteligência de edifícios tem no mercado três soluções tecnológicas para a gestão da energia em tempo real, recarga de veículos elétricos e redes inteligentes de comunicações.

Questionado sobre que medidas considera que o governo espanhol deveria adotar em resposta à decisão argentina sobre a YPF, o responsável da N2S considerou que o assunto deveria ser tratado a nível europeu.

«Este é um ataque a uma multinacional com sede na Europa e por isso deveria ser Bruxelas a impor medidas que considere oportunas. Temos uma união de países com objetivos comuns e por isso deveríamos ter ações comuns», afirmou.

«Espanha deve protestar, mas o resto das medidas deveriam ser acordados na UE. Não teria sentido tratar este problema de forma bilateral», considerou.

O assunto é debatido esta quarta-feira à tarde no Parlamento Europeu, em Estrasburgo.