Todas as ruas estão em chamas, o bombardeamento é constante, é a operação russa mais surpreendente desde a invasão inicial: em Vovchansk - TVI

Todas as ruas estão em chamas, o bombardeamento é constante, é a operação russa mais surpreendente desde a invasão inicial: em Vovchansk

  • CNN
  • Nick Paton Walsh, Mick Krever, Kosta Gak e Brice Lainé
  • 17 mai, 09:57
Vovchansk (CNN)

O peso devastador da ofensiva russa arrasou esta cidade. Reportagem

Polícia corre para socorrer habitantes de cidade fronteiriça ucraniana ameaçada pelo avanço russo

por Nick Paton Walsh, Mick Krever, Kosta Gak e Brice Lainé, CNN

 

Nos pesadelos recorrentes, os horrores costumam repetir-se. Na cidade fronteiriça ucraniana de Vovchansk, estão a piorar.

Todas as ruas estão em chamas. O bombardeamento é constante. Tanques e Humvees destruídos cobrem as ruas. Ouvem-se disparos de armas ligeiras à medida que as forças russas avançam.

Os habitantes da cidade viveram a ocupação e a libertação durante sete meses exaustivos em 2022. Mas agora suportam o fardo da tentativa do presidente russo, Vladimir Putin, de se apoderar do máximo de terras possível antes de a Ucrânia sentir os efeitos da chegada das armas americanas.

Moscovo lançou na sexta-feira a operação mais surpreendente desde a invasão inicial, atravessando a fronteira norte da Ucrânia, numa tentativa repetida de avançar para sul, em direção à segunda cidade mais populosa do país.

O peso devastador da ofensiva arrasou Vovchansk.

Os militares russos afirmam que a ação deixou cerca de uma dúzia de aldeias sob o seu controlo. Consequentemente, Kiev está agora a esforçar-se por enviar forças de outras linhas da frente sobrecarregadas, onde a Rússia também está a registar progressos, para impedir que as armas de Moscovo alcancem a cidade de Kharkiv propriamente dita.

Em Vovchansk, o ataque significa que um habitante local, Mykola, a mulher e a mãe de 85 anos estão a deixar para trás, pela primeira vez, a casa que construíram e onde viveram durante 40 anos. Fazem parte de um grupo de 35 residentes que telefonaram às autoridades ucranianas na quinta-feira e pediram para ser resgatados antes que as tropas russas - agora a apenas algumas centenas de metros a norte - chegassem à sua porta.

O som dos tiros de artilharia ecoa nas paredes de tijolo de cimento quando um jovem agente da polícia chega à porta de casa.

Mykola sai, tropeça nos escombros do quintal e pragueja.

"Entre!", diz o polícia, Maksim, enquanto empurra a família e os seus poucos pertences para o carro.

Desde o avanço da Rússia, Maksim tem conduzido continuamente para a cidade, retirando as pessoas de lá. Move-se rapidamente. O cheiro a casas queimadas paira no ar e o fumo bloqueia a luz do sol - vestígios dos bombardeamentos de artilharia que caem sobre as casas dia e noite.

Mykola e a mulher pegam em sacos de plástico com ovos e atravessam a horta. Os ataques aéreos de ontem à noite foram demasiado fortes, admitem. Menos de cinco minutos depois, estão a fugir dos buracos e do entulho que cobrem a rua.

Numa rotunda na periferia da cidade, um velho caça da era soviética, outrora uma exibição orgulhosa de proezas militares do passado, foi arrancado do pedestal. Desviam-se por entre o corpo carbonizado e a torre de um tanque ucraniano que foi desfeito - há pouco tempo, o que fez com que as munições se espalhassem pela rua, intocadas.

Quinze minutos depois, param numa estação de serviço. Com um largo sorriso, Maria, de 85 anos, caminha hesitantemente até uma carrinha da polícia que a aguarda.

"Não é assustador", diz sobre o bombardeamento. "Só não o quero." A família admite que ela tem problemas de audição, pelo que a intensidade dos bombardeamentos pode não a ter afetado tanto. Mesmo assim, atingiu o seu limite.

Senta-se ao lado da antiga vizinha, Inna.

"À noite, lançavam tantas bombas aéreas", conta. "Horrível."

Amigos seus, que agora se oferecem como voluntários para retirar os residentes, tentaram chegar até eles no dia anterior, mas tiveram de voltar para trás.

"Estavam a disparar perto de nós. Disparavam contra tudo", conta Inna.

Memórias angustiantes do controlo russo

Lembram-se dos meses que passaram sob ocupação russa em 2022 - vivendo sob o controlo militar de um país com o qual tinham vivido amigavelmente durante décadas, a poucos quilómetros de distância, do outro lado da fronteira.

A mulher de Mykola refere-se à ocupação: "Foi bom. Não nos tocaram. Mas tocaram noutros residentes".

No entanto, Inna recorda como os russos procuraram os soldados ucranianos que tinham lutado contra as forças russas e os seus representantes na primeira fase da guerra, em 2014. "Torturaram sobretudo os rapazes que tinham combatido. Temos lá uma fábrica, onde eles tinham uma prisão. Os russos detiveram lá os nossos rapazes". Tem havido relatos generalizados de maus-tratos a civis ucranianos sob ocupação russa, alegações que o Kremlin tem tipicamente rejeitado como falsas.

Assim que deixa os residentes, a polícia parte de novo para Vovchansk. Logo após a entrada da cidade, encostam numa linha de árvores. Sentados numa mesa de piquenique, examinam um mapa e avaliam a qual dos três pedidos de socorro podem responder. Apenas um grupo de pessoas que pediu ajuda é acessível, concluem.

No entanto, o debate é interrompido por um ruído baixo. Será um drone? Espreitam de baixo do arvoredo para cima. O ruído vai e vem. Mas depois avistam um drone - um de três. Um maior que paira, e dois outros mais pequenos que andam de um lado para o outro.

Os dois polícias apontam as suas armas para o céu. "Por cima de nós! Olha!", diz um deles. "Devo lixar isto?", pergunta a um colega. "E se for nosso?", responde ele. Se a polícia abrir fogo, pode mesmo atrair a atenção do drone para si.

A espera é de cortar os nervos. O barulho aumenta. A polícia e a equipa da CNN só podem esperar que estejam encobertos pelas árvores ou que não sejam considerados um alvo suficientemente importante para o drone russo.

Parece estar fixado noutra coisa ali perto. Mas depois o barulho aumenta. É altura de abandonar o local.

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