Televisão do futuro: estamos todos perdidos - TVI

Televisão do futuro: estamos todos perdidos

Crianças a ver televisão IOL Mãe

São muitas as perguntas para poucas respostas sobre o que aí vem. Certo é que a Internet assume cada vez mais um poder incontornável. E a televisão do futuro não pode fugir dela

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Antes de mais, «o que é um serviço avançado de televisão?». Nos anos 50, era «ter» televisão, depois as cores e os quatro canais e, mais tarde, os filmes em VHS... Agora, há mais, muito mais: HD, 3D, IPTV, centenas de canais, gravação de programas e redes sociais. No meio de tudo isto, são também mais as perguntas do que as respostas sobre o futuro da televisão. «O final da série Lost foi considerado o fim de uma era. É uma metáfora daquilo que se passa com os produtores de televisão. Estamos perdidos».



A confissão é de Nuno Artur Silva, fundador das Produções Fictícias. Primeiro porque «quem é que vai pagar» a inovação? «O negócio está cada vez mais estilhaçado. Há cada vez mais players, devices, canais», explicou, durante um fórum sobre a TV do futuro, organizado esta quinta-feira pela Ericsson. A chave, para sobreviver, está no «quase», nos conteúdos «quase diferenciadores». E no músculo financeiro.



Só que «as novas gerações não querem pagar para usar o iPad», admitiu Pedro Esteves de Carvalho. E o mercado português entrou «numa forte espiral de competitividade. Tudo é à borla. Não se reconhece valor às funcionalidades», acrescentou o manager de negócio de TV da Optimus, João Mendes Pedro.



Não perder «a capacidade de contar histórias»



Mas a ponte é para o futuro. Em média, o ser humano já passa 30% do tempo na Internet. Acredita-se que daqui a dois anos a Net ultrapasse o consumo de TV. Aliás, o «total de horas de produção produzidas desde o início da televisão em Portugal é inferior às horas de vídeo do YouTube. Isto é impressionante, mas levanta questões sobretudo de conteúdo», apontou o director de multimédia da RTP, Francisco Teotónio Pereira.



Felizmente, para os canais generalistas, «entre 60 a 70% do público ainda quer que alguém lhe agregue conteúdos. Ou seja, é preciso saber, acima de tudo, quais são os nossos públicos». E não perder «a capacidade de contar histórias», declarou o director-geral da SIC, Luís Marques. Ainda persiste, também, a lógica do togetherness. «Quanto mais familiar, mais TV like», garantiu o director de estratégia da Zon Conteúdos. «A TV vai ter de continuar a conjugar escala». E dinheiro para isso? «Está na subscrição e na publicidade».



Aqui, surge outro problema. O dinheiro vai mudar de mãos, já que o investimento em publicidade cai a pique na TV e noutros meios. Quem ganha é a Internet. Os desafios da TV não se esgotam: passam pela aposta na interactividade, na maior interacção entre dispositivos e «pelo factor mais importante, a integração de conteúdos através das redes sociais», apontou o director de produto da Vodafone, António Margato.



A personalização é outra das preocupações a baralhar os criativos: «O consumidor tem cada vez menos tempo disponível e cada vez mais escolhas. A ideia é ter televisão em qualquer lugar e em qualquer plataforma», disse o manager de negócio de TV da Optimus, João Mendes Pedro.



Do prime time ao my time



Impõe-se, mais do que nunca, o envolvimento do utilizador. Ele «tem de fazer parte do processo. Os asteriscos têm de estar à vista», disse o director de produção de televisão da Zon TV Cabo. Nuno Sanches acrescentou que «a Web dos dois cliques já está longe demais». A exigência de «usabilidade» é cada vez maior.



O paradigma mudou também porque «os produtores tornaram-se distribuidores: chegam directamente ao público. O inverso também acontece. O próprio público tornou-se produtor e distribuidor», lembrou o responsável da RTP. Veja-se o YouTube.



O aumento brutal da oferta dificulta a escolha dos consumidores. E é suposto que a televisão seja «um factor de agregação social». Mas estamos a passar da era prime time ao my time: o público decide o que quer e quando quer ver. Este «é um desafio abismal» para as TV generalistas. TVNET é cada vez mais «um caminho sem retorno. Com os jornais, a Net não foi muito meiga. Não sabemos o que aí vem».
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