Perdas são «mito». Credores da Grécia são «sortudos» - TVI

Perdas são «mito». Credores da Grécia são «sortudos»

Nouriel Roubini nas conferências do Estoril (José Sena Goulão/Lusa)

Roubini diz que perdas atuais e futuras foram transferidas para credores oficiais. Privados conseguiram acordo «muito gentil»

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Está a criar-se «um mito» em torno da dívida da Grécia em relação às perdas significativas que os credores privados terão de suportar, ao contrário dos públicos. O alerta parte do economista Nouriel Roubini, num artigo no sítio da Internet do «Financial Times».

«A realidade é que os credores privados conseguiram um acordo muito gentil, ao passo que as perdas atuais e futuras foram transferidas para os credores oficiais», contrapõe, num artigo intitulado «Os credores privados da Grécia são os únicos com sorte».

O pretendido perdão de 110.000 milhões de euros pelos credores privados (53,5% dos 206.000 milhões que detêm) é condição para um crédito oficial - o segundo resgate financeiro - de 130.000 milhões de euros, a conceder pela Zona Euro e pelo Fundo Monetário Internacional.

Parte deste aumento da dívida pública grega será para apoiar credores privados, designadamente para recapitalizar bancos, que permanecerão propriedade privada.

Roubini entende que «os credores privados da Grécia devem parar de se queixar». «A realidade é que muitos dos ganhos nos bons tempos - e até ao PSI [sigla em Inglês para envolvimento do sector privado] - foram privatizados, enquanto muitas das perdas foram agora socializadas».

O processo de reestruturação da dívida pública grega tem hoje um momento decisivo, às 20:00 TMG (e de Lisboa). Até lá, está em curso um processo de manifestação de adesões dos credores privados ao projeto de troca de obrigações. Os bancos portugueses vão aceitar reestruturar mais de 1.500 milhões de euros dos títulos de dívida helénica que detêm.

Uma estimativa feita pela AFP às 18:00 TMG de hoje aponta para uma percentagem de adesão de credores privados, que representa cerca de 55% do montante total pretendido.

O objetivo é reunir o acordo de credores representantes de 75% dos créditos privados, sem o qual a operação de troca de títulos será anulada, expondo o país à bancarrota em 20 de março, quando terá de reembolsar 14.500 milhões de euros.

Se for concretizado, o acordo permite que os credores privados troquem os títulos de dívida que têm por outros, de valor facial reduzido em 53,5% e com prazos de pagamento aumentados e taxas de juro reduzidas. No total, a perda do investimento que fizeram ascende a 75%.

O governo grego contrapõe que, apesar das perdas, a troca é boa para os investidores privados, uma vez que a alternativa era perderem tudo. Se a Grécia entrasse em incumprimento desordenado isso custaria 1 bilião de euros à Zona Euro.

Hoje, dia D, os juros da dívida grega a um ano voltaram a superar os 1.000%.

E, por isso, ainda ontem o ministro alemão das Finanças avisou que Atenas enfrentará «uma catástrofe» se o seu sistema bancário não for salvo.

«Se não conseguirmos salvar o sistema financeiro na Grécia, isso seria uma catástrofe para a população grega», afirmou na quarta-feira Wolfgang Schaüble perante uma audiência de estudantes do Instituto Universitário Europeu, perto de Florença, em Itália, onde está de visita.

«Podemos interrogarmo-nos sobre se a Grécia não tomou uma má decisão ao juntar-se à moeda única europeia», disse ainda, acrescentando que foi Atenas que quis e que permitiu baixar as taxas de juro no país.

Para Schaüble, hoje «toda a gente sabe que as verdadeiras causas dos problemas da Grécia e dos gregos vêm da Grécia e da sociedade grega, não do estrangeiro».
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